segunda-feira, 18 de abril de 2011

Série - Pais, pai(aços) e filhos

Mãe x babá: qual a função de cada uma?

Maioria dos problemas da dupla vem da confusão dos papéis. Mães devem impor as regras, mas para isso precisam conhecer os filhos


Foto: Guilherme Lara/Fotoarena
A mãe Paula Victorino, as filhas e a babá Vilma Marcelino: divisão de tarefas
“Ser mãe é educar e cuidar de uma criança. A babá pode educar e cuidar de uma criança, mas a principal diferença é que ela deve fazer isso de acordo com os princípios da família com quem trabalha”. A definição vem da terapeuta de família e escritora do livro “Mãe/Babá: Manual de Instruções” (Summus Editorial) Roberta Palermo. Ela aposta no potencial conjunto dessas grandes mulheres para uma educação construtiva e sadia para toda a família.
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Coluna: vamos brincar de ser pai e mãe?

Em teoria, parece simples. As mães confiam sobretudo na sua intuição e as babás, na experiência adquirida pelo tempo e convívio diário com as crianças. Mas nem sempre mães e babás conseguem ser aliadas no delicado processo de criação e cuidados com os filhos. “A causa mais comum dos desentendimentos é a confusão de papéis, tanto por parte das mães como das babás”, afirma Ângela Correa, psicóloga e diretora da UNIRE, empresa que oferece curso de treinamento para babás. “A confusão é bem natural, pois esta relação é bem próxima e dotada de certa dependência”.
Em um cenário onde tudo é novidade – filho, babá, a ausência física e a adaptação a uma nova rotina familiar – é comum as mães enfrentarem uma avalanche de dúvidas e inseguranças, seja nas tarefas práticas do dia a dia ou na reflexão a respeito dos caminhos de uma boa educação. Tomar decisões é a exigência imediata para o estabelecimento da relação com a babá e com a criança. “É fundamental que, no período de adaptação da babá, a mãe ensine seu sistema de trabalho, organize com ela uma rotina e esteja aberta ao diálogo. Seres humanos não vêm com selo de garantia. Qualquer relação precisa ser cuidada dia a dia”, acrescenta Ângela.
Para Roberta Palermo, em primeiro lugar, mães e pais devem ter bem claro que a educação é responsabilidade deles. “Eles têm de ser atuantes, perto ou longe dos filhos. Quando estão com as crianças, precisam assumir cuidados do dia a dia mesmo, como dar banho, dar comida, trocar a fralda, cortar as unhas. Todas estas tarefas são importantes para criar um vínculo, para aproximar pais e filhos. Participar desses momentos também é educar”, explica.

Foto: Guilherme Lara Campos/FotoarenaAmpliar
Vilma, a babá, e Paula, a mãe: equilíbrio na rotina familiar


Final feliz: possível e extremamente saudável
Dialogar, estabelecer um plano de ações, agir em conjunto e impor regras e limites que promovam a convivência harmoniosa entre mãe, pai, babá e filhos. Realizar tantas tarefas parece uma proeza inviável, mas a médica pediatra Paula Victorino provou o contrário. Mãe de duas meninas, de 7 e 4 anos, Paula conseguiu aliar equilíbrio a uma rotina familiar e profissional bastante atribulada. Tudo graças à ajuda da babá Vilma Marcelino, figura imprescindível no seu dia a dia.
Antes de Vilma, Paula teve outras duas babás. Elas só saíram do emprego por problemas pessoais. “Sempre confiei na minha intuição na hora da escolha. A gente sente quando a pessoa vai dar certo. Eu e a Vilma nos entendemos muito bem, ela olha pra mim e logo percebe o que eu estou sentindo ou pensando. Temos uma sintonia muito bacana”, conta a mãe.
A sorte ajuda, mas a garantia de uma relação sadia e construtiva para as crianças vem do esforço e competência das duas partes, ou seja, da mãe e da babá. Mães competentes conhecem seus filhos e estão sempre trabalhando nisto – embora trabalhem fora de casa também. “Mesmo trabalhando muito, sempre dei um jeito de estar presente na rotina das minhas filhas e as conheço muito bem. Às vezes me antecipo aos feedbacks da Vilma, pois só de olhar já sei se tem algo incomodando”, diz Paula.
Conhecer alguém a fundo depende de estar presente e cultivar uma relação nas pequenas coisas cotidianas. Com os filhos, não é diferente. A proximidade, conquistada por este trabalho, reforça a segurança da mãe. “Participo da vida delas. Faço lição, brinco, leio, passeio. Sou soberana, elas nunca preferiram a babá a mim”, orgulha-se Paula. “Nós só queremos respeito pelo nosso trabalho. Uma mãe aberta ao diálogo e que não delega tudo para a babá já está nos respeitando e fazendo com que as crianças também nos respeitem”, complementa Vilma.
Sintomas
Ter ciúmes, culpa e ficar ansiosa ao deixar os filhos com a babá são sinais de que algo vai mal e é preciso agir rápido, antes dos conflitos desgastarem de vez a relação. “É preciso manifestar as insatisfações”, recomenda Ângela. A manifestação de amor pela babá não deixa de ser um sinal de que ela está cumprindo bem o seu papel. Por outro lado, o papel da babá é estreitar laços entre filho e mãe, mesmo quando esta não está presente. “A mãe deve examinar se o ciúme tem fundamento ou se é fruto da sua própria insegurança”, completa.
“Às vezes preciso acordar mais cedo para fazer tarefa com a minha filha, mas é o tipo de coisa que nunca deixo para a babá”, diz a executiva Fernanda Ceneviva Monseur, mãe de duas meninas de 6 e 4 anos. “Na minha casa, eu sou a referência das minhas filhas. Ela segue os meus princípios”, completa. Fernanda praticamente só encontra a babá nos sábados de manhã, quando as duas conversam sobre a rotina das crianças.
Para driblar a ausência e estabelecer uma comunicação em todos os dias da semana, Fernanda encontrou uma didática própria. “Fiz uma agenda do ano. Nela, a babá é orientada a anotar qualquer coisa diferente que tenha acontecido, seja um acidente ou um comportamento incomum. É uma forma de nos comunicarmos com verdade. É nessa relação que eu acredito”, afirma.
Dicas para um relacionamento saudável com sua babá
- Manifeste logo suas insatisfações. O diálogo é o principal instrumento para uma parceria saudável.
- Cumpra as obrigações trabalhistas.
- Instrua a babá de forma amigável e cortês. Mesmo se for para chamar a atenção, o impedimento não precisa ter cunho punitivo ou vexatório.
- Estabeleça uma rotina, de preferência diária ou a cada dois dias, para “ajustes” com a babá: é o momento de sentar, saber o que aconteceu nestes dias e dar a ela um retorno sobre o trabalho realizado.
- A casa da família é o local de trabalho da babá. Impor uma hierarquia é fundamental para evitar liberdades que extrapolem a relação entre empregado e empregador.
- Fique sozinho com seus filhos sempre que possível e só contrate uma folguista (substituta da babá aos finais de semana) se for realmente necessário. “Não ter ninguém no comando força os pais a assumir o comando, que na verdade deveria ser deles na maior parte do tempo”, reforça Roberta.
- Dar banho, dar comida, ajudar na lição e trocar a fralda: é importante participar de tarefas práticas do dia a dia da criança para desenvolver e aprimorar o vínculo.

Cuidado para não terceirizar a educação dos filhos

Contratar uma babá é uma opção válida - desde que os pais não confundam a função da profissional e assumam as responsabilidades


Foto: Edu Cesar/FotoarenaAmpliar
Mariluce, Tânia e suas colegas: nem todas as babás têm apoio das mães
Segundo dados de 2006 compilados pelo Ibope, 51% das mulheres no Brasil são mães - em números absolutos, a porcentagem representa 17 milhões de brasileiras às voltas com fraldas, mamadeiras, escolinhas e outras preocupações típicas da maternidade. 56% delas trabalham fora, o que põe inúmeras crianças sob os cuidados de babás. Nada de errado até aí. O problema é que, ao delegar os cuidados, muitos pais pretendem deixar para a babá também a responsabilidade de educar - em uma tentativa de "terceirização" do filho.
Para a psicóloga Angela Correa, fundadora da Unire, agência que também oferece formação para babás, o número de casais que pretendem terceirizar a educação dos filhos é grande. "O discurso dos pais mudou", diz ela, relembrando um caso em que a mãe procurava uma babá que folgaria somente a cada duas semanas - e outra para cobrir as folgas da primeira - porque não tinha tempo para "este tipo de compromisso" (leia-se: cuidar do próprio filho a cada 15 dias).
"A responsabilidade da educação das crianças é das mães e dos pais. Já a responsabilidade pelos cuidados - o 'tomar conta' - pode ser terceirizado", define Ruy Pupo Filho, pediatra, pai de três filhos e autor do "Manual do Bebê" (Editora Elsevier). Ainda assim, muitas mães acreditam que não podem se responsabilizar pela educação simplesmente porque trabalham fora.
Ficar em casa ou sair?
Fazer-se presente parece um desafio impossível de atingir por causa da vida profissional, que exige a ausência por longos períodos do dia. Atrapalhadas pela culpa, estas mães não percebem que não é preciso passar 24 horas por dia junto do filho para estar presente. "É possível educar seu filho mesmo trabalhando fora. Basta ter presença quando chega, na comunicação com a babá e no estabelecimento de regras", esclarece Angela. "Delegar a função de educadora para a babá é um erro. Ela não vai saber dizer 'não', pois teme perder o emprego".
O pediatra antroposófico Antonio Carlos de Souza Aranha não acredita na existência de uma fórmula de "certo" e "errado", mas recomenda às mães que permaneçam com a criança pelo menos nos três primeiros anos - desde que elas possam arcar com esta pausa. "O ideal é que a mulher seja valorizada neste papel. Devia, inclusive, ganhar por isso", opina. Por outro lado, se a mãe tem amor, afeto e sabe curtir a criança, isso basta. "Não precisa passar 12 horas por dia com o filho, nem se sentir culpada por estar trabalhando fora", completa.
A psicopedagoga Elizabeth Polity, autora de "Ensinando a Ensinar" (Editora Vetor), concorda. Para ela, não há nada de errado em uma mãe que trabalha ter ajuda profissional para criar o filho. "Não existe uma regra de quanto tempo você precisa estar presente. O que precisa é de uma qualidade vincular; que a mãe seja responsável pela criação", opina.
Estabelecer regras claras e manter comunicação constante com a babá, portanto, são formas de, mesmo não estando lá, acompanhar o progresso do seu filho. Existem várias formas de manter a qualidade de sua presença, compensando a pouca quantidade dela. Contar uma história quando chega à noite, deixar bilhetes para a criança e telefonar durante o dia são algumas atitudes simples, mas eficazes. Também há formas de se certificar de que as regras estabelecidas são seguidas. "A babá não vai dar doce para a criança se você não compra", exemplifica Elizabeth.
Pais e filhos desconhecidos
A babá não pode ficar no meio da relação entre pais e suas crianças. Angela, da Unire, lembra que a boa babá é "a que faz a mãe presente", seja pela comunicação diária do que o filho fez ou através do estímulo a atividades que remetam à mulher enquanto ela não está - por exemplo, convidar a criança a fazer um desenho para a mamãe. Assim, mesmo trabalhando, a mãe pode saber que seu filho deu os primeiros passinhos, adora cenoura e odeia tomar banho.
"Não consigo achar natural um pai ou uma mãe que não sabe nada sobre o filho - o que ele come, se faz xixi na cama, do que gosta de brincar", condena a psicopedagoga Maria Irene Maluf. Com mais de 30 anos de atendimento clínico a crianças, adolescentes e famílias, Maria Irene descreve os problemas dos filhos que sofrem com a ausência dos pais. "Eles ficam completamente perdidos. O discurso destas crianças é igual ao discurso de crianças de lares de adoção", compara. Com a diferença de que, ao contrário dos pequenos de lares, estas crianças têm, sim, pais - que optam por contratar babás para ocupar o lugar afetivo deles.
É o caso da babá Maria José, 53 anos, especializada em recém-nascidos - ou RN, no jargão técnico da profissão. Ela conta de uma casa onde passou dois meses acompanhando a mãe desde a maternidade. E, mesmo em plena licença, durante este período, a mãe jamais deu um banho no bebê, para espanto da babá. "Tem coisa mais gostosa do que pegar um nenezinho?", se pergunta.
Alexandra Soares, de 30 anos, sempre trabalhou com mães que são presentes. Mas reconhece um problema no dia a dia de quem cuida dos filhos alheios: "muitas mães orientam a babá a fazer algo de um jeito, mas quando estão em casa, quebram as próprias regras". Tânia Maria Carneiro, 36 anos, também não tem queixas da casa onde trabalha, mas observa o mesmo problema nas histórias das colegas. "Tem casos em que as crianças parecem ter dupla personalidade", diz, explicando que eles se comportam de uma forma quando estão só com as babás e de jeito diferente quando as mães entram na cena.
Lidar com a família, então, é mais difícil do que lidar com a criança? Mariluce da Silva, 36 anos, babá desde os 12, concorda. "Tive de sair de uma casa no Rio de Janeiro porque uma das avós e a bisavó da criança não me aceitavam por ser negra", relembra. "Mas quando a criança chama por você, ou sorri, faz a gente esquecer qualquer problema com a família".
Segundo a mesma pesquisa do Ibope, 87% das mães que trabalham fora acreditam que o problema das crianças de hoje é a falta de limites. Mas precisa ficar claro que os limites devem ser estabelecidos pela mãe, e exercidos e reforçados pela babá. "Colocar limite para as crianças é uma coisa boa. Não tem nada a ver com castigar, muito menos com bater", defende Angela, fundadora da Unire. "Os limites surgem a partir de um relacionamento adequado, saudável, de respeito e com vínculo afetivo", completa.

Limites: essenciais para a criança

A imposição de limites, escolhida como grande desafio da educação pelos leitores do iG Delas, não pode ser "terceirizada" - e é fundamental para os filhos


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Não somos anjos: crianças precisam de limites para atingir seu pleno desenvolvimento
Cuidados, amor e atenção: todos os pais sabem bem como agradar seus filhos. Mas, depois do amor, a coisa mais importante que eles podem dar aos filhos tem sido esquecida, muitas vezes confundida com repressão: disciplina.
Para o pediatra e psiquiatra infantil T. Berry Brazelton, autor de livros como "Disciplina: O Método Brazelton" (Editora Artmed), a maior necessidade de uma criança, depois de amor, é disciplina. Mas falta a muitos pais conhecimento - para estabelecer os limites corretos, sem reprimir os filhos - e firmeza - para fazer com que eles sejam cumpridos sem lançar mão das palmadas.
Ao longo do ano, o iG Delas tratou do assunto muitas vezes, sob enfoques diversos. Se o bebê passa por uma fase narcisista natural, depois de certa idade ele precisa de disciplina - e é mais fácil estabelecer limites antes dos 7 anos.
Mesmo estabelecendo regras, rotinas e desenvolvendo um vínculo saudável com a criança, ela vai testar os limites impostos. Nessa hora, entender o papel da birra e saber como reagir são armas essenciais. Tudo para não perder a cabeça e acabar dando palmadas na criança -- ainda que tenham finalidade pedagógica, elas não são necessárias.

Como dizer não sem provocar a fúria de seu filho

Negar desejos de uma criança é inevitável, ainda mais na época de férias. Saiba como fazer isso sem criar problemas


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Crianças não dão "show" sem plateia: aprenda a impor limites
“Eu tinha pavor daquelas criancinhas que se jogavam no chão quando a mãe negava algum brinquedo ou doce. Sempre pensava: filho meu jamais vai se comportar desta forma. Afinal, comigo nunca teve acordo, ou eu obedecia ou enfrentava o chinelo. Hoje, minha filha Giulia, de 3 anos, faz o show completo. Grita, prende o ar e começa a me bater. Morro de vergonha e acabo fazendo a vontade dela, pois acho que vão pensar que eu sou uma péssima mãe”, conta.
A enfermeira Cristina Torre, 25 anos, sofre desde que a sua pequena Giulia começou a andar e a falar as primeiras palavras. A psicóloga Mariana Chalfon diz que as crianças precisam de limites desde pequenas. “Aos oito meses de vida, pais ou profissionais que cuidam da criança precisam estar constantemente vigilantes para evitar que a criança se exponha a perigos que comprometam sua integridade. Dizer ‘não’ para a criança ao vê-la colocar os dedos na tomada ou ao tentar pegar um objeto pesado em cima da mesa, por exemplo, já são maneiras de estabelecer alguns limites”, explica.
Especialista em psicopedagogia, Maria Irene Maluf diz que dar limites dá trabalho, exige tempo, dedicação e muitos aborrecimentos. “Dizer sim a tudo é uma saída confortável, principalmente para quem tem medo de deixar de ser amado pelo filho”, alerta. Ao contrário do que muitos acreditam, dizer não depois que a criança está mais crescida, com cinco ou seis anos, não vai torná-la agressiva. Nesta idade, elas precisam saber que existem atividades apropriadas e circunstâncias que são adequadas.

Mariana Chalfon diz que em algum momento da vida a criança vai reclamar ao ouvir um não, mas elas precisam disso. “De certa maneira, os pais ensinam as crianças a ter discernimento e responsabilidades quando apresentam alguns limites, o que é fundamental para o desenvolvimento delas”, diz.
Fragilidades
Crianças com menos tolerância para suportar um “não” vão sofrer mais para se adaptar à escola, ao mundo profissional, à vida conjugal e serão pais e mães impotentes perante seus filhos. Há casos em que a mãe cai em si quando começa a ler matérias a respeito, a perceber as consequências no comportamento eternamente frustrado e insatisfeito do seu filho. “Mas há muitos casos que exigem um trabalho especializado, uma terapia para o próprio casal aprender a resgatar o seu papel de pai e de mãe na família”, diz Maria Irene.
Maria Aparecida Pereira, massagista e mãe de Arthur, de 5 anos, diz que seu filho sempre se debatia contra o chão quando era contrariado. “Uma vez, a professora da escolinha do meu filho me chamou e disse que ele estava se isolando cada vez mais e que era muito tímido”. Maria começou a perceber a importância de estimular um esporte que proporcionasse o convívio de Arthur com as outras crianças. “Hoje, ele é uma criança mais afável e emocionalmente estável. Aprendeu que perder faz parte da vida e que não há nenhum mal nisso”.
Como lidar com a birra das crianças em lugares públicos?
Maria Irene diz que ninguém dá show sem plateia. “A melhor coisa é se afastar por alguns metros e não prestar atenção.” A psicóloga explica que se isso não funcionar, é porque a mãe já fez isso e voltou atrás, perdendo a credibilidade. Neste caso, pegue seu filho do chão, o coloque nos braços e retire-se do local com ele. “Leve-o para casa e tenha uma atitude firme, até ter certeza de que ele não fará mais manhas, proíba-o de sair com você”. Maria fala que esse é um castigo difícil de cumprir, mas infalível para contornar e acabar com os chiliques e as chantagens infantis.
Existe idade certa para começar a dar limites para as crianças?
Dar limites é educar com valores, com respeito ao outro, e isso começa desde pequeno. Há, por exemplo, bebês de um mês que mal a mãe passa a dar atenção ao pai ou aos irmãos, já começa a resmungar, choramingar para controlar.
Caso a mãe nunca tenha dito não, como começar a estabelecer regras?
Provavelmente a criança vai ficar com raiva e medo, mas vai aprender que há hierarquia no mundo, vai desenvolver tolerância à frustração, se tornar uma pessoa mais forte, mais compreensiva e menos egocêntrica. “Existe uma ideia ultrapassada de que jovens delinquentes são consequência de uma educação rígida, uma ideia equivocada. Eles foram educados, sim, mas de forma errada, em lares onde não havia amor, respeito, normas, consequências, direitos e deveres, entre todos os membros da família”, explica Maria Irene Maluf.

O que estraga nossas crianças?

Seis especialistas opinam sobre os maiores problemas dos pais na educação dos filhos atualmente


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Infância idealizada: pais erram ao tentar a todo custo poupar os filhos de frustrações
John Robbins é um autor norte-americano responsável por alguns best sellers - como "The New Good Life" e "Diet for a New America", ainda não publicados aqui - e colunista do Huffington Post. Ativista anticonsumo, ele publicou recentemente um artigo que toca em um ponto crucial da sociedade contemporânea: o que está estragando nossas crianças? Fomos ouvir vários especialistas, de diferentes áreas, para descobrir.
1. Excesso de consumo
Para o próprio John Robbins, de acordo com artigo publicado no Huffington Post, o problema passa longe do que alguns erroneamente classificam como "excesso de amor". Ele aponta a cultura de consumo como verdadeira responsável pelo problema. "O que estraga as crianças é o fato de que as ensinamos a preencher seu vazio a partir de fora, comprando coisas e fazendo atividades, em vez de aprender como se preencher por dentro, fazendo boas escolhas e desenvolvendo a criatividade", escreve.
2. Ausência forçada do pai
Segundo Mirian Goldenberg, antropóloga e autora de "Toda mulher é meio Leila Diniz" (Ed. BestBolso), a ausência da figura paterna é o maior problema para a geração atual de crianças. E essa ausência, muitas vezes, é causada pela própria mãe, ainda que ela seja casada com o pai. "Muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não querem compartilhar e percebem os homens como meros coadjuvantes — ou até mesmo figurantes — em um palco em que a principal estrela é a mãe", diz Mirian. "No entanto, não existe absolutamente nada na 'natureza' masculina que impeça um pai de cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu bebê, assim como não há uma 'natureza' feminina que dê à mãe a autoridade de se afirmar como a única capaz de cuidar do recém-nascido".
3. Competição entre os pais
A pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade de São Paulo, vê vários fatores que podem estragar as crianças, mas ressalta um deles: a mudança na estrutura familiar. Muitos pais que trabalham fora se eximem de suas responsabilidades como educadores e não têm nenhum controle sobre os filhos. "As crianças se aproveitam e os pais competem entre si, para ofertar coisas aos filhos", comenta.


4. Tentativas de compensaçãoA ausência dos pais por conta de trabalho não é necessariamente um problema em si. O erro, alerta o pediatra antroposófico e neonatologista Sergio Spalter, é tentar suprir essa ausência com concessões que visam evitar 100% a frustração da criança. A criança aprende, assim, que para conseguir qualquer coisa basta chorar. "O problema é que, na vida futura, muitas vezes não haverão concessões, e uma pequena frustração poderá significar um grande problema para aquele jovem, que passará a desistir dos desafios", diz Spalter.
5. Excesso de fast food
A nutricionista Daniela Murakami, da Nutrir e Brincar - Assessoria e Consultoria em Nutrição Infantil, destaca um lugar onde facilmente se pode estragar uma criança: a mesa. Pais que optam pela comida fácil, rápida e pouco nutritiva das redes de fast-food ou de congelados para agradar seus filhos (e ter menos trabalho) podem estar plantando uma semente perigosa. "Esses 'mimos' são um risco para a saúde das crianças, pois elas passam a ingerir alimentos muito calóricos, com alto teor de gordura, sódio e açúcar refinado e não aceitam alimentos importantes, como frutas, verduras e legumes", explica. "Sentar-se com maior frequência à mesa e ter suas refeições com os filhos, pedir a ajuda da criança para preparar algum alimento, fazer um piquenique saudável no parque são formas 'inteligentes' de mimar as crianças, sem, contudo, estragá-las", completa ela.
6. Insegurança dos pais
Cada geração tenta reparar os erros da geração anterior - e, assim, a geração atual de pais, criada ouvindo muito "não", tem uma dificuldade em impor limites aos filhos. Perdidos na idealização de uma infância plenamente feliz, eles querem conselhos e orientações de médicos e da escola para tomar qualquer atitude com a criança. "Que lugar sobrou para os pais? Eles são meros executores dos conselhos e recomendações da escola e do médico? Isso fala de uma falta de confiança na própria experiência, no saber adquirido justamente quando eles eram crianças", explica Adela Stoppel, professora do curso de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae. Para Adela, ser pai implica assumir certos riscos, se responsabilizar pelas decisões sobre a educação de filhos, colocar em prática convicções pessoais, ideais e crenças. "Nossos filhos esperam que nós lhes digamos o que achamos e o que não achamos bom com base em nossa própria experiência", conclui.

Seu filho não obedece? 9 dicas para mudar isto

Se a criança tem até 7 anos de idade, especialistas garantem que é possível estimulá-la com mais facilidade a obedecer

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Especialistas garantem que você pode estimular a criança a obedecer com mais facilidade
“Tudo o que eu peço, ela faz o contrário. Às vezes, perco a cabeça”, conta a cabeleireira Marlene Dias, mãe de Monique, 5 anos. Como ela, muitas mães sentem dificuldade em fazer com que os filhos obedeçam. Com ajuda de especialistas em educação e psicologia infantil, selecionamos dicas que vão acabar com essa tormenta e permitir um desenvolvimento mais tranquilo e saudável para o seu filho - e menos cansaço para você.
1. Eduque sem culpa
Entender que existem regras faz parte de um importante processo de aprendizagem da criança. Por isso, os pais devem sentir-se autorizados a educar. “Eles têm essa função e serão cobrados por isso”, diz Isabel Kahn, psicóloga e professora da PUC-SP. Os pais que trabalham devem administrar o sentimento de culpa. “Quando a mãe explica que precisa trabalhar, o filho pode sentir falta dela, mas ele compreende a situação”, garante.

Por isso, os especialistas são unânimes em afirmar: nada de tentar compensar a ausência por meio da superproteção ou de permissividade. “Ao perceber que os pais se sentem culpados, a criança pode adotar comportamentos manipuladores”, alerta a psicanalista Patrícia Nakagawa, mestre em psicologia escolar, aprendizagem e desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo.
2. Crie um bom vínculo afetivo Demonstre carinho, converse e brinque. Assim, você cria uma maior cumplicidade com a criança. Segura de que tem a atenção dos pais, ela aprende que não precisa recorrer à desobediência para chamar a atenção. Dessa maneira, quando você precisar impor uma regra, a criança compreenderá mais facilmente que há momentos em que ela deve obedecer.
“Para criar um bom vínculo com uma criança não é preciso dar presentes ou mimar demais, mas brincar com ela”, afirma a psicóloga Suzy Camacho, autora do livro “Guia Prático dos Pais” (Edit. Paulinas). Ao chegar do trabalho, dedique pelo menos 15 minutos para brincar. “A qualidade da interação é muito mais importante do que a quantidade”, completa a psicóloga Juliana Nutti, que é doutora em Educação pela UFSCAR e coordenadora do curso de especialização em Psicopedagogia do Centro Universitário Central Paulista.
3. Valorize o papel da criança
Seu filho precisa conhecer a importância dele na família. Para isso, é bom que ele tenha o seu lugar reservado na mesa de jantar e seja ouvido pelos pais. “A criança deve saber que obedecer aos pais contribui para o desenvolvimento de uma dinâmica familiar harmoniosa, na qual todos são recompensados”, explica Juliana Nutti.
4. Crie uma rotina
Utilize o bom senso e estabeleça uma rotina para o seu filho. “A rotina é fundamental, pois traz segurança e faz com que a criança se sinta cuidada. Aos poucos, dê-lhe uma certa autonomia para executar pequenas ações sozinhos. A criança gosta de sentir-se capaz”, garante Adriana Tanasovici, psicopedagoga do colégio SAA, em São Paulo. Uma rotina bem adaptada ao ritmo da criança reduz a ansiedade, faz com que ela se lembre de algumas tarefas cotidianas, como escovar os dentes após as refeições, e tenha um sono de qualidade.
5. Dê ordens claras
Dialogue sempre, use linguagem adequada à faixa etária da criança e tom firme. Ao dar uma ordem, olhe nos seus olhos da criança. É preciso persistência, mas psicólogos garantem que funciona: “Diga o que ela deve fazer uma única vez. Aguarde alguns minutos e verifique se ela já fez o que você pediu. Se não, pegue-a pela mão e a acompanhe na execução. Repita até que ela se condicione a atendê-lo”, diz Suzy Camacho.
6. Esteja preparado para lidar com a desobediência 
Ao desobedecer, a criança busca uma satisfação momentânea, nem sempre o seu objetivo é afrontar o adulto. Por isso, aja com calma e firmeza. “Não se pode dizer não aleatoriamente, mas é fundamental sustentá-lo quando for preciso, pois a criança tem que saber que ela não pode pular uma janela ou não deve agredir o coleguinha”, ressalta Isabel Kahn.
7. Diante da birra, fique firme 
Quando a criança começar a fazer birra, mantenha a calma. Reforce que você não poderá atendê-la naquela hora e seja objetiva. “Se estiver em público, não se preocupe com os comentários ou olhares das pessoas. Também não faça discursos ou ameaças enquanto a criança estiver chorando. Apenas tente desviar a atenção dela para outra coisa, mas não ceda”, afirmou Suzy Camacho. “Os pais precisam ouvir as necessidades da criança, não a birra”, observou Adriana Tanasovici.
8. Oriente a babá
Combine com os cuidadores as diretrizes da educação do seu filho.“Esse diálogo é imprescindível para que não se estabeleça um relacionamento conflitante e a criança fique confusa”, explica a psicanalista Patrícia Nakagawa.
9. Educa-se o tempo todo 
Lembre-se: educar é uma atividade contínua e você precisa dar o exemplo. “A educação é um processo que não ocorre apenas em situações de desobediência. A criança aprende muito por meio do que observa em seu cotidiano”, diz Patrícia Nakagawa. Por isso, seja verdadeiro.“Se enganamos ou mentimos uma vez, as crianças podem perder a confiança nos pais”, completa Adriana Tanasovici.

10 dicas para voltar ao trabalho sem culpa

Da amamentação a conversas honestas: saiba como lidar com a culpa ao voltar para o trabalho depois da maternidade


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Trabalho sem culpa: não ceda às tentações da compensação
Há maneira de se livrar da culpa que boa parte das mulheres que se tornam mães sentem na hora de voltar para o trabalho? Se não, é preciso ao menos não cair nas armadilhas deste sentimento comum e avassalador. "A mãe que fica culpada fica boba", diz Roberta Palermo, terapeuta familiar, autora de "Babá/Mãe – Manual de Instruções" (Summus Editorial) e mãe de um menino de 8 anos - que foi para a escolinha com um ano e meio, enquanto Roberta retomava suas atividades.
Conversamos com profissionais de diferentes áreas para reunir conselhos e dicas úteis para as mães deixarem a culpa para trás - e voltarem ao trabalho motivadas e dispostas. E assim, por que não, se aprimorarem também como mães.
1. Confie no cuidador
Na sua ausência, a criança vai ficar sob os cuidados de alguém da família, de uma babá ou de uma escolinha? Não existe fórmula, mas nem pense em deixar seu filho com a sogra por preguiça de procurar uma boa creche ou uma babá treinada. "O ideal é fazer uma opção consciente, e não por falta de outra escolha", aconselha Vânia Solé, psicóloga clínica e obstétrica da Clínica Genesis, em São Paulo.
Para ter menos grilos no horário do expediente, a confiança no cuidador é essencial, assim como a certeza de que ele está bem preparado. O pediatra Andre Bressan, autor do blog Pediatra em Casa, recomenda disponibilizar uma lista contendo todos os telefones necessários para eventuais urgências - celulares, número do pediatra e de um hospital - além de esclarecer as "condutas imediatas" para que o responsável pela criança saiba o que fazer em caso de febre, engasgos ou quedas. Sim, elas vão acontecer enquanto você não está lá - e seu filho vai sobreviver.
2. Deixe uma blusa no berço do bebê
Maria Tereza Maldonado, psicóloga, consultora e autora de "As Sementes do Amor - Educar Crianças de 0 a 3 anos para a Paz" (editora Planeta), explica que o olfato é um dos sentidos mais desenvolvidos do bebê recém-nascido. "Aos 10 dias de idade, ele já pode diferenciar o cheiro da mãe do cheiro de outras mulheres", diz. Por isso, ao sair para trabalhar, deixe uma peça de roupa sua dentro do berço: é uma forma de dar segurança ao bebê.
3. Exija seus direitos
Segundo a legislação, empresas que tenham em seu quadro mais de 30 mulheres com mais de 16 anos devem oferecer uma creche interna, convênio com estabelecimentos ou auxílio-creche para as mães que trabalham. Confira se este é o seu caso - e, se a empresa não cumpre a lei, converse com outras colegas que são mães e estude fazer uma proposta à administração.
4. Continue amamentando
As mães também estão amparadas, pela legislação trabalhista, na continuidade da amamentação. Além da legislação, que garante dois intervalos especiais de meia hora exclusivos para isso até os seis meses do bebê, você também pode utilizar uma bombinha para retirar o leite e armazená-lo adequadamente. "O bebê pode continuar mamando, integralmente, até os 6 meses de idade", diz Maria Tereza. E você pode ficar tranquila por não deixá-lo em falta.
5. Seja sempre honesta com seu filho
Na hora de deixá-lo na creche, com a babá ou na casa da vovó, explique que está indo trabalhar e que vai voltar para pegá-lo. Mas jamais diga "eu venho te buscar" se quem vai buscar é outra pessoa, ou se não tem certeza de que vai sair do trabalho a tempo. "Para a criança, isso cria uma expectativa que pode se transformar em ansiedade", explica Vânia Solé - que também é mãe de um menino de 14 e uma menina de 10.

E jamais reclame do trabalho na frente de seu filho. Em vez de mostrar que para você é difícil ficar longe, isso só o leva a entender que você prefere ir a um lugar do qual nem gosta em vez de estar em casa. "Se o emprego está ruim, cabe a você procurar por outro", diz Vânia, que também alerta para os perigos do velho discurso "eu trabalho para comprar comida para você": "já atendi crianças que param de comer depois de ouvir isso. Elas preferem ter a mãe em casa e acham que, se a mãe trabalha por comida e não gosta de trabalhar, essa pode ser a solução".


6. Tenha claro o que significa sua volta ao trabalho
Muitas mulheres voltam ao trabalho por necessidade financeira - mas, mesmo se este for o caso, é preciso que você valorize seu emprego, sua carreira, sua profissão. "Os próprios filhos vão se orgulhar de uma mãe profissional", acredita a terapeuta Roberta Palermo. "É preciso manter a vida após a maternidade e continuar a ser mulher, além de mãe". Vânia concorda: "Não adianta ficar 24 horas por dia em casa, ao lado do filho, e viver reclamando disso". Ficar em casa amarga e infeliz, pela obrigação, só vai gerar problemas para a criança - você cria uma pessoa cheia de culpas e neuroses.
7. Não caia na armadilha da compensação
A maioria das mães que se sentem culpadas acabam tentando "compensar" seus filhos. Na cabeça delas, dizer 'não' para a criança durante o pouco tempo em que estão juntos seria uma crueldade. Outras "compensam" o que elas acreditam ser uma falta (o fato de trabalhar fora) com presentes e mimos. Erro duplo: não é uma falta trabalhar fora, e não faz bem para a criança ter todas as suas vontades atendidas - desde ter o último modelo de boneca a comer chocolates antes do jantar. Ela precisa de limites. "É melhor passar meia hora que seja dando banho, jantando com a criança ou ensinando a ela que não pode subir na mesa do que chegar em casa com um pacote de presente", defende Roberta Palermo.
8. Dispense a babá no final de semana
Acorde com ela, brinque, dê banho, troque a fralda, curta, dê bronca, passeie, se canse. Os momentos em que você está casa devem ser passados com a criança. Como ninguém é de ferro e todos precisam de descanso, divida com o pai as atribuições. E trabalhe durante a semana sem culpa.
9. Dê um tempo na vida social
Não precisa planejar todos os finais de semana com lazer completo: parque, teatrinho e passeios são divertidos, mas também cansativos. Curta ficar em casa no final de semana. Dê um tempo em compromissos sociais e valorize o seu tempo com a criança. "Fique um feriado na cidade - isso evita o estresse de fazer a mala, pegar a estrada, chegar a um lugar e ter que sair todos os dias", exemplifica Roberta.

10. Ponha as cartas na mesa com o pai de seu filho
Quer vocês vivam juntos ou não, quer você goste disso ou não: lembre-se de que o filho não é só seu. Converse claramente com o pai para envolvê-lo na tarefa de criar uma criança, o que inclui uma gama bem variada de atribuições: dar comida e banho, brincar, colocar limites, pegar no colo, mostrar o mundo. Revezem-se, falem sobre o rumo que querem dar à educação dele e tenham claro o compromisso e a responsabilidade que ser pais representa.

"Geração N": estamos criando jovens incapazes?

Autor norte-americano critica exagero dos pais em relação ao estímulo positivo dos filhos. O resultado? Uma geração de narcisistas


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Geração N: jovens que acham que não precisam se esforçar para nada
Rob Asghar, ensaísta e articulista norte-americano, aponta em um artigo recente noHuffington Post o surgimento do que ele chama de "geração N", formada por jovens narcisistas. Para ele, os pais norte-americanos, atormentados pela culpa por trabalhar muito ou por optar pelo divórcio, estão criando filhos sem limite algum. Inseguros, eles temem que o filho não goste deles, cedem a qualquer pedido das crianças e celebram toda e qualquer "conquista" do filho - até uma formatura de pré-escola.
O resultado é uma geração que se sente no direito de tudo, sem precisar trabalhar duro por nada. Rob cita uma pesquisa desenvolvida em conjunto pela San Diego State University e pela University of South Alabama, que concluiu que o narcisismo dos jovens norte-americanos cresceu nos últimos 15 anos - e que os Estados Unidos podem passar por problemas sociais quando estes jovens chegarem à idade adulta e assumirem cargos de poder.
O estudo, que envolveu dezenas de milhares de jovens universitários, detectou traços de "auto-respeito exagerado" e de um "infundado senso de merecimento". Alguns pesquisadores chegaram a afirmar que a crise econômica mundial recente, desengatilhada por decisões de alto risco, já seja um resultado do narcisismo da geração.
Para Maria Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial, esse cenário é comum aqui no Brasil também. Os pais que temem perder o amor dos filhos representam uma inversão absoluta de papéis. "Na minha época - eu tenho 57 anos e minha filha, 32 - eram os filhos que temiam perder o amor dos pais", contrapõe. Hoje, este temor influencia até na transmissão de valores.
Oprimidos pela culpa ou afundados no próprio narcisismo, os pais temem colocar limites em seus filhos e criam crianças que serão eternamente dependentes deles. Sem parâmetros claros, as crianças crescem sem valores: não sabem respeitar os pais, pois nunca ouviram uma repreensão simples como "enquanto uma pessoa fala, a outra escuta". Se alimentam mal e só comem quando querem, pois jamais os pais foram firmes e exigiram que ela se sentasse à mesa durante uma refeição. "Limite é a ética em ação", explica Maria Irene. "Pais e mães narcísicos criam fracos", resume.
Idade da influência
O psicólogo Caio Feijó, autor de "Pais Competentes, Filhos Brilhantes" (editora Novo Século), ressalta a importância do papel de pais e mães nas expectativas e na autoimagem da criança - e alerta que esse poder é limitado pelo tempo. "Os pais só têm uma influência grande sobre os filhos até antes da puberdade, por volta dos 10 ou 11 anos. Depois disso, vem o resultado", diz.
"Dependendo de como os pais conduzem essa influência, eles criarão expectativas nos filhos sobre o que eles podem ou não alcançar", continua. E o estímulo em excesso pode prejudicar tanto quanto chamar seu filho de "burro" ou de "inútil", especialmente quando este estímulo indica uma projeção - por exemplo, aquele pai que é dentista e sempre comenta que o filho "vai ser um dentista genial, igual ao papai", ou aquela mãe que sempre quis ser bailarina, mas não pôde estudar quando pequena, então matricula a filha em aulas diárias da dança, ainda que a menina não mostre o menor talento ou interesse pelas sapatilhas. "A superproteção traz consequências tão graves quanto o abandono", finaliza.
Características da "Geração N": 
- Não têm noção de limite
- Acham que são merecedores de tudo
- Não sabem se esforçar para conseguir algo
- Não sabem como agir em situações adversas
- São criados por pais narcisistas, que competem entre si
- Não respeitam os outros

Como ensinar seu filho a ser uma 'criança-cidadã'

Dar o exemplo é a principal maneira de mostrar às crianças como elas podem – e devem – se comportar socialmente


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Criança-cidadã: espírito de equipe e respeito podem ser passados desde cedo
Dentro e fora de casa, inevitavelmente, o comportamento dos pais influencia o dos filhos. Se você não está consciente disso, pense nas seguintes situações: será que pedir para a criança contar uma mentirinha ou deixar um carrinho de supermercado atrapalhando a passagem de outros veículos são bons exemplos? Se quiser criar uma criança socialmente boa, que respeita os outros, a resposta é não.

Segundo a educadora Adozinda Kuhlmann, que recebeu o título de Cidadã Paulistana em 2007, aos seus 90 anos, os exemplos que os pais dão funcionam muito melhor do que as regras. “Nós nascemos para conviver, e respeitando as pessoas com quem você convive, o sentimento social de todos ao redor acaba se aprimorando”, revela.

Informação, debate e exemplo

Para que uma criança adote uma postura socialmente correta e viva bem em sociedade, primeiramente é preciso que os pais reflitam sobre o assunto. Segundo Daniela de Rogatis, coordenadora daCompanhia de Educação , que auxilia pais na educação dos filhos, a criança vai acompanhar o modo como os pais se comportam na vida social. “Meu filho não será gentil se eu não for gentil, se a gentileza não for um valor dentro de casa”, diz. Por isso, ela explica que quando tal comportamento passa a fazer parte do dia a dia da criança, ele passa a ser natural para ela.

No entanto, o tratamento dos pais para com os filhos também faz uma grande diferença. A psicóloga infantil Beatriz Otero, da Clínica Multidisciplinar Elipse , diz que não adianta apenas dizer ao seu filho, por exemplo, que é feio mentir. “Se ele se comporta de uma maneira errada, o ideal é conversar, explicar a situação, as consequências daquele comportamento”, explica.

De acordo com Cláudia Porto, editora do Mingau Digital , site criado para crianças, pais e professores, famílias que aceitam qualquer comportamento de um filho não estão contribuindo para que ele cresça emocionalmente saudável. “E muito menos para que ele tenha uma vida feliz quando adulto”, completa.

Levar questões de sustentabilidade para dentro de casa pode proporcionar à criança uma noção maior de respeito à diversidade e ao meio ambiente. “O que é sustentável pode ser abordado em diversos aspectos, principalmente a questão do consumo, de como lidamos com as coisas dentro de casa”, afirma Rogatis. Você sempre trata lixo como lixo ou aproveita a caixa do brinquedo para outra coisa? Se uma criança aprende que tudo pode ser aproveitado, ela passa a incorporar esta noção. Assim, os pais abrem mais espaço para discutir sobre o que é ser socialmente saudável.

Fora de casa

Para uma criança adotar uma atitude generosa em relação ao mundo, é preciso que os pais tenham paciência e deem importância para o assunto. Porém, há diversas iniciativas que também podem ser tomadas, como mostrar à criança que não somente os pais agem de determinada forma, mas pessoas que estão no meio social em que ela vive, seja professores, pais dos amigos, outros parentes. “Uma tia que se oferece para ensinar a empregada a ler, um avô que ajuda a consertar brinquedos, isso tem um valor inestimável para a criança”, revela Porto.

Além disso, ele indica que, se for possível, é bom envolver a criança num projeto social ou ambiental. “Mas tem que ser um projeto que ajude a resolver um problema, e não assistencialista”, explica. Por exemplo: participar de um mutirão para limpar a praia, plantar mudas em áreas degradadas, ajudar a pintar um orfanato. Segundo a especialista, atitudes como estas farão com que a criança se sinta bem e ficará mais fácil para elas adotarem essa prática.

Se a escola que a criança estuda também procura ensiná-los sobre o que é socialmente benéfico e se preocupa com projetos sócio-ambientais, é mais uma oportunidade para a criança refletir sobre as responsabilidades que deve ter no meio em que vive. Com três filhos pequenos de diferentes idades – nove, seis e cinco anos –, Rogatis conta que eles também estão inseridos neste aprendizado; e também levam reflexões para dentro de casa. “Na escola eles obtêm bons exemplos, como a questão da economia de água que eles incorporaram e trouxeram para casa”, afirma. Ela acredita que, em alguns aspectos, eles refletem até melhor do que os adultos sobre que conduta deve ser tomada.
Respeitar a criança

Segundo Adozinda Kuhlmann, é preciso ter conhecimento do seu filho para passar para ele valores bacanas. “Os pais precisam respeitar e saber o que se passa com o filho sempre”, afirma. Se ele também for respeitado, será mais fácil respeitar o próximo.

Além disso, ela explica que não adianta querer cercear a criança, ficar em cima para que ela faça isso ou aquilo. “É preciso explicar o que acontece, as razões para aquilo e as consequências dos atos”, completa.

Com o trabalho das escolas, ONGs e até mesmo da mídia, as crianças hoje estão mais informadas sobre as questões da cidadania. “Elas estão num ambiente que proporciona oportunidade para ser socialmente melhor”, afirma Rogatis. Mas os pais também devem aproveitar este momento para refletirem sobre o próprio papel no tema e, assim, passarem uma postura mais sustentável para os filhos – sempre com naturalidade.

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Adotar um bicho carente: a criança ajuda a cuidar e cria mais noção de solidariedade
6 dicas práticas
- Adote um animalzinho carente. Isso ensina a criança desde cedo a ter mais compaixão e a cuidar do próximo

- Dê o exemplo primeiro. Não adianta xingar as pessoas no trânsito e depois exigir que o seu filho não xingue o amiguinho

- Ensine o seu filho a cuidar das coisas – guardar os brinquedos, arrumar a casa no fim do dia, não jogar coisas boas fora

- Leve a criança com você quando for ajudar uma ONG ou doar os brinquedos delas para crianças carentes

- Recicle o lixo, não gaste muita água, não deixe luzes acesas à toa – tudo isso acaba virando hábitos socialmente saudáveis para seu filho

- Seja gentil sempre que possível: dê lugar aos mais velhos na fila, ajude alguém que esteja perdido na rua, não maltrate garçons ou atendentes (ainda que algo tenha saído errado)

Birra é inevitável, mas pode ser controlada

Experts em comportamento infantil explicam a origem da birra e como controlá-la


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Jo Frost auxilia os pais a imporem limites nas manhas e birras dos filhos
Segundo a educadora Cris Poli, a Supernanny do programa de televisão brasileiro, a birra é uma maneira de a criança expressar o que quer ou não quer, e faz parte do seu desenvolvimento. E mesmo que os pais ensinem aos poucos a forma mais adequada de se colocar perante ao mundo, as birras vão acontecer, não tem jeito. “Os primeiros sinais de mau comportamento começam a aparecer na primeira infância, a partir dos 18 meses, e ficam mais evidentes em crianças com mais de 2 anos e meio. A birra é conseqüência da falta de limite. Se os pais não definirem nenhum tipo de limite, terminarão com crianças que não sabem se controlar”, completa a babá inglesa Jo Frost, a Supernanny do programa norte-americano.

A fonoaudióloga Carmen Carbone, 37 anos, é mãe da Renata, 3 anos e 10 meses e reconhece a birra no choro (algumas vezes acompanhado de berros) que vem depois do “não”. “Considero um teste de força e paciência para ver quem vai ceder primeiro”, relata. Segundo a especialista em comportamento infantil Patrícia Brum Machado, autora do livro Estabelecendo limites (editora Mediação), os pais acabam reforçando o comportamento ao cederem. “A criança fica condicionada e aprende que toda vez que fizer birra vai ganhar o que quer”, explica. Por isso, a técnica comportamental mais eficaz, de acordo com a expert, é deixar o pequeno se debater e chorar a vontade, até que perceba que as conseqüências de tanta cena não serão positivas. “Quanto mais cedo os pais procederem dessa forma, mais fácil se torna a extinção da birra”, acrescenta.

Na prática

“De 0 a 2 anos, é difícil estabelecer regras pra que o pequeno aprenda, memorize e obedeça. Nesta idade, o ideal é falar que não gosta de determinado comportamento e que ela não precisa se jogar no chão. Mostre com a expressão do rosto e a voz firme que você desaprova, afinal a criança entende mais a linguagem de expressão e o tom de voz”, aconselha Cris Poli.
A partir dos 2 anos, os pequenos já têm condições de entender o que são regras, então chegou o momento de dizer com todas as letras “não pode gritar, nem chorar sem motivo, se debater ou bater nos outros”. Carmen, a mãe de Renata, diz que agora, perto dos 4 anos, ela já entende melhor e é possível dialogar e explicar os porquês de não poder ficar sem lavar o cabelo, descer para o parquinho do prédio à noite, ganhar o brinquedo novo... “Finjo também que ela não está chorando, mantenho o sorriso e mostro que quem está no comando sou eu. Agora (depois de muita birra!) ela percebeu que chorando não vai conseguir nada”, conta.

Determine as regras para ensinar o comportamento adequado de maneira tranquila e racional, para que a criança assimile gradativamente. “A parte visual ajuda a visualizar, portanto desenhar as regras estabelecidas pode ser um aliado!”, complementa Cris Poli. Jo Frost explica que tudo isso deve ser feito a partir do primeiro ano. “Porém é possível reverter o quadro, se a birra é constante e os pais já cederam algumas vezes. Neste caso é importante introduzir técnicas básicas de disciplina aliada a uma nova rotina e a um conjunto de regras domésticas, com muitos elogios e incentivos”, diz. Ou seja, dê os parabéns cada vez que um bom comportamento brotar no lugar da birra. No bom relacionamento entre pais e filhos, há amor e respeito de ambas as partes. E todas as entrevistadas colocam esta regra em primeiro lugar.

Dicas práticas

Cris Poli , Jo Frost e Patrícia Brum Machado ensinam o beabá das estratégias antibirra:

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Siga as dicas para controlar as birras dos seus filhos
- Estabeleça regras. E se elas não forem cumpridas, dê uma advertência pra que ela saiba que está fazendo errado. “Este aviso permite que a criança mude o comportamento, sem necessidade de ser disciplinada”, diz Cris.

- Se a criança continuar desobedecendo, mande para o cantinho da disciplina (por um minuto por ano de idade, afinal mais do que isso ela dispersa e o efeito não é o mesmo) pra refletir sobre o que não cumpriu. Segundo as especialistas, este método não é castigo, ensina a criança a controlar as birras e aprender a lidar com o sentimento de raiva por não conseguir o que ela quer. Use-o até os 10 anos de idade.

- A criança fez escândalo em público? Separe do grupo, leve para um cantinho e dê advertência. Se ela não parar, mande para o cantinho da disciplina assim que chegar em casa. “É um processo que requer paciência, dedicação e calma”, conta Cris. Patrícia lembra que é fundamental manter a calma nessa hora e diminuir a platéia.

- Corte aquilo que ele gosta, quando o “momento de reflexão” não surtir mais efeito. Tire o computador, a brincadeira na rua, o desenho preferido... Para que ele aprenda a se comportar e reconquiste tudo por meio do cumprimento de regras.

- Use tom de voz firme e baixo ao dizer não.

- Evite a raiva: não grite, nem bata, ameace ou castigue. Introduza o diálogo depois do choro. “As explicações se fazem oportunas assim que a crise cessar”, justifica Patricia. Seja firme, sem punir.

- Identifique os comportamentos inadequados e ensine melhores formas, deixando claro de qual jeito você quer que o seu filho se porte. “Mas pense também nas preferências e particularidades dele, deixando-o fazer escolhas na medida do possível”, diz Patricia.

- Sirva de modelo, não reforce o comportamento agressivo com as suas atitudes. Mostre interesse na vida e atividades do pequeno, separando um tempo exclusivo para conversa e brincadeiras.

- Entre em acordo com o pai. Os dois precisam ser coerentes e ter a mesma postura perante os acessos de birra.

- O mais importante: imponha limites.

Pais têm atitudes equivocadas na educação de filhos

Contradição entre discurso e ação é o principal problema, segundo pesquisadora. Pais valorizam diálogo, mas admitem punição física


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Pais valorizam diálogo, mas admitem punição
Pesquisa feita com 860 pais evidencia a diferença entre as concepções educativas e as intervenções concretas deles sobre seus filhos adolescentes. “Apesar de os pais valorizarem o diálogo, 69,7% deles afirmaram que concordam em punir fisicamente o seu filho caso ele faça algo muito errado”, revela Luciana Maria Caetano, professora do curso de pedagogia da Universidade São Francisco e responsável pela pesquisa.
O trabalho de Luciana faz parte de sua tese de doutorado defendida no Instituto de Psicologia (IP) da USP e mostra, por meio das respostas dos pais a questionários, as contradições na forma que eles educam seus filhos: “No discurso, eles(os pais) se preocupam em ensinar o respeito mútuo, a importância do diálogo, a arcar com as conseqüências. Entretanto, nas atitudes concretas aparecem as dificuldades.”
No caso de bater nos filhos, Luciana lembra que os pais, com essa atitude, estão ferindo a integridade física e psicológica dos jovens. Ela comenta que esse tipo de punição ensina aos adolescentes uma justiça retributiva. “Por esse conceito de justiça, os pais passam um modelo de resolução de conflitos fundamentado na violência ou troca, ou seja, os filhos pagam por aquilo que fazem. Bateu no irmão? Então será punido da mesma forma. Essa atitude se vê, por exemplo, no trânsito, quando um motorista é fechado por outro e tenta compensar tentando passá-lo depois.”
Segundo Luciana, o modelo ideal de justiça é a distributiva, que considera as condições de cada filho, com suas necessidades, suas características e suas dificuldades.


Autonomia
Além de justiça, a pesquisa analisou o que os pais pensam da obediência, respeito e autonomia na relação com os filhos. Sobre autonomia, o questionário mediu o grau de importância que os pais dão a essa concepção na educação e a participação deles na construção da autonomia moral dos filhos na adolescência.
Mais uma vez, os pais deram respostas contraditórias. Por um lado, eles consideram importante que o filho seja autônomo e apoiam questões como dar oportunidade de escolhas aos filhos, incentivar que estes tenham suas opiniões e que arquem com as consequências de seus atos. Em contrapartida, ao julgarem o ideal de como devem ser as relações de respeito com os seus filhos, 84% concordam que um pai nunca deve confiar no filho e 57,9% concordam que os pais devem dar palpite em tudo o que o filho faz.
Outro aspecto enfatizado por Luciana é a utilização da barganha pelos pais para que seus filhos os obedeçam. O recurso serve como uma espécie de troca entre pai e filho. “Podemos citar como exemplo o caso de um filho que não quer fazer lição e os pais fazem uma troca, cortando o acesso dele à internet. O problema é que o jovem não aprenderá porquê ele deve fazer a lição e se adequará as oportunidades da barganha. Adolescentes que só fazem coisas por trocas futuramente não compreenderão as razões e princípios das regras.”
Luciana ainda ressalta a importância de se construir uma reciprocidade moral nas relações familiares, o que implica em relações de respeito mútuo, cooperação e confiança. “Para isso, os pais precisam ser fonte de boas regras e exemplo para os filhos. Obedecer à autoridade por medo ou por culpa não favorece a construção da autonomia. O autônomo é aquele que age bem com liberdade de escolhas”, conclui.
Amostra
A pesquisa abordou pais (20,6%) e mães (79,4%) de adolescentes com idades entre 12 e 20 anos. Havia participantes de cada uma das cinco regiões do país (42,8% do Sudeste, 20,2% do Nordeste, 16,5% do Centro-Oeste, 11% do Norte, e 9,3% do Sul).
A amostra com os pais foi realizada no ambiente escolar (54,8% na escola pública e 45% na privada), de diferentes condições econômicas.
Na pesquisa, os participantes tinham de responder a um questionário em que atribuíram notas de 1 a 7, as quais variavam de opções com as quais eles discordaram totalmente e aquelas com as quais eles concordaram totalmente.

Livro derruba mitos sobre a criação
dos filhos

Autores reuniram pesquisas que contradizem várias práticas do senso comum na educação das crianças


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Tradição errada: livro reúne pesquisas que contradizem o senso comum sobre a educação dos filhos
Elogiar os pequenos é preciso. Adolescentes que discutem com os adultos simplesmente perderam o respeito. Irmãos brigam e competem tão somente pela atenção dos pais. Óbvio? Calma lá. Pesquisa recentes dizem o contrário - e os autores Po Bronson e Ashley Merryman, colunistas das revistas Time e New York, reuniram estas pesquisas a entrevistas com os envolvidos no lançamento "Filhos: Novas Ideias Sobre Educação" (Editora Lua de Papel).
Feitas em maioria nos Estados Unidos e Canadá, no entanto, as pesquisas podem ser vistas com alguma reserva. "Pesquisas são muito relativas", diz Isabel da Silva Kahn Marin, psicóloga infantil e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê, entidade afiliada à World Association for Infant Mental Health. "A criança tem que ser a primeira referência para os pais saberem se estão acertando ou errando na educação".
É importante, portanto, confiar no bom senso e na observação cuidadosa do seu filho, além de evitar a inconsistência - mudar as regras de sua educação toda hora, só porque saíram pesquisas novas sobre o assunto. Áderson Costa, psicólogo especializado em desenvolvimento e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, recomenda que os pais pesquisem mais a fundo as pesquisas divulgadas. "Nem todas as pesquisas de outros países podem ser aplicadas em contextos daqui", diz ele. "Cabe ao leitor compreender que pesquisas são circunstanciadas".
Segundo as pesquisas reunidas por Po e Ashley:
Elogiar pode tornar a criança menos confiante

Elogiar a criança a todo tempo pode ser um tiro que sai pela culatra. Segundo uma pesquisa realizada ao longo de 10 anos por um grupo da Universidade de Columbia, crianças que são elogiadas demais por sua inteligência tendem a desistir mais fácil quando se deparam com um desafio. Segundo os autores explicam em "Filhos: Novas Ideias Sobre Educação", o melhor é elogiar a criança por seu esforço em resolver um problema - e não por sua inteligência, o que a deixaria mais preocupada em "manter" o status de inteligente do que em tentar encarar novidades fora de sua zona de conforto.


Dormir uma hora a menos faz muito mal para as crianças

Muitos pais preferem colocar as crianças na cama um pouco mais tarde, até mesmo para poderem conviver um pouco mais de tempo com elas quando chegam tarde do trabalho. Meia horinha a menos não faz diferença, costumam pensar. Mas não é bem assim. "Como o cérebro se desenvolve até os 21 anos de idade, e porque muito desse processo ocorre durante o sono, essa hora perdida aparentemente tem um impacto exponencial em crianças e jovens, o que não ocorre com um adulto", explicam os autores no livro.
Ignorar uma mentira falada pela criança a estimula a mentir mais

Até mais ou menos os quatro anos de idade, a criança não diferencia fantasia e realidade - portanto, quando mente, não é preciso repreendê-la. Certo? Não. As pesquisas reunidas no livro mostram que ignorar as 'mentirinhas' das crianças menores só as leva a manter o padrão pelo resto da infância - e, às vezes, pelo resto da vida. "(...) Em menos de 1% dos casos um dos pais aproveita a oportunidade para ensinar que não se deve mentir. Em geral, o pai ou a mãe censura a falta cometida, mas não o fato do filho tentar acobertá-la. Do ponto de vista da criança, sua tentativa de mentir não implica nada", alertam Po e Ashley no livro.

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Capa do livro Filhos: Novas Ideias Sobre Educação
Para os pesquisadores, o importante é mostrar às crianças o mal que as mentiras fazem - e não só ensiná-las que serão punidas se disserem mentiras, pois assim elas não deixam de mentir - apenas passam a mentir com mais eficiência, para não serem apanhadas.
A rivalidade entre irmãos não é motivada pela disputa da atenção dos pais

Segundo as pesquisas reunidas por Po e Ashley, os irmãos são uma espécie de prisão sem saída para as crianças. Elas tratam bem os amigos porque sabem que dependem disso para manter a amizade, mas entendem que os irmãos sempre estarão lá - e assim podem se acostumar a tratá-los de forma inadequada, provavelmente porque são obrigados a dividir suas coisas com eles. A diferença de idade, ao contrário do que se imagina, tampouco acirra as disputas.
Filhos adolescentes de pais mais liberais não mentem menos 
Adolescentes mentem para evitar desapontar seus pais. "Sonegando informações sobre suas vidas, os adolescentes delimitam seu domínio social e criam uma identidade própria, independente dos pais ou de outro adulto que represente autoridade", dizem os autores em capítulo do livro. Portanto, quando tomam a iniciativa de serem sinceros - mesmo sabendo que isso pode trazer problemas - os adolescentes estão respeitando os pais e estabelecendo uma relação construtiva com eles.

Bater em crianças: crime ou educação?

Em mais de 20 países, bater no filho pode levar os pais à cadeia. No Brasil, campanhas buscam colocar fim à “palmada pedagógica”

Em agosto deste ano, depois de um polêmico referendo realizado pelo correio, a Nova Zelândia consultou a população sobre a lei conhecida como “antipalmada”, promulgada em 2007, que torna crime dar uma palmada nos filhos. A maioria das pessoas, 87,6% dos eleitores, votou pela extinção da lei, ou seja, quer voltar a ter o direito de dar uma palmada “pedagógica” nos filhos. O governo neozelandês, no entanto, ainda não decidiu se vai alterar a legislação e revogar, de fato, a lei.
Na Suécia, desde 1979, bater em uma criança – ainda que seja um eventual tapinha depois de uma malcriação – pode levar os pais para a cadeia. O país foi o primeiro a proibir as palmadas “pedagógicas”. Na América Latina, Uruguai, Venezuela e Costa Rica já seguiram o exemplo sueco e enquadraram a palmada como crime. Além deles, países como Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Israel também criaram leis criminais que protegem a criança de eventuais palmadas, ainda que seja com o intuito de educá-la.
No Brasil, o tapinha visto como educacional não é crime e continua sendo socialmente aceito – desde que ocorrido no âmbito familiar. “Aqui, a chamada palmada pedagógica não é penalizada do ponto de vista criminal. Agora, se ela levar a algum tipo de dano físico, pode ser enquadrada como lesão corporal”, define Paulo Afonso Garrido de Paula, procurador de Justiça do Estado de São Paulo, professor de Direito da Criança e do Adolescente da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
De acordo com o promotor, que também é um dos autores do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), tornar crime o hábito de dar palmadas ainda não é o melhor caminho para o Brasil. “Criminalizar é complicado porque é difícil determinar os limites da palmada pedagógica”, diz.
O ideal seria apostar primeiro em uma mudança cultural. “O caminho é investir em campanhas educativas, que expliquem que não é causando dor que você vai conseguir educar bem”, opina Paulo. Uma das iniciativas desse tipo no Brasil é a rede “Não Bata, Eduque”, que visa contribuir para o fim da prática da palmada como instrumento de educação. Nascida em 2005, a rede conta com o apoio de várias instituições, como a Fundação Xuxa Meneghel, capitaneada pela apresentadora.
Leis brasileiras
No Brasil, a lei é guiada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A primeira parte do Estatuto proclama os direitos essenciais dos menores, como o direito à integridade física, moral e espiritual. A segunda parte criminaliza algumas condutas, como submeter uma criança a vexame ou constrangimento – coisa que pode ser feita mesmo sem palmadas.
O Estatuto também obriga que agentes da saúde, professores ou outros profissionais sociais que tenham relação com a criança denunciem qualquer suspeita de abuso ou maus-tratos.
Mas, afinal, bater para educar funciona? Para Maria Irene Maluf, pedagoga especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, a resposta é clara: bater não funciona. “O tapa pode resolver na hora, principalmente quando a criança raramente é repreendida dessa forma, mas não ensina o autocontrole”, alerta. O melhor é mostrar por meio de repetições e do estabelecimento claro de limites.
Aos adultos que ainda acreditam que um filho que não apanha vira uma criança sem limites, a pedagoga explica que ocorre o inverso: pais que sempre recorrem às palmadas é que podem perder os parâmetros. “Agressões são formas de desrespeito e deixam marcas de rejeição. Ou acovardam diante da vida ou criam brutamontes que farão ainda pior com seus próprios filhos”, diz ela.

Educar sem bater é possível

Especialistas diferenciam autoridade de autoritarismo e explicam os princípios para ter – e manter – a autoridade com seu filho


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Autoridade: imposição de limites é parte do processo de educar
Impor limites não é tarefa fácil para pai algum. Muitos têm medo de perder o amor dos filhos por serem severos demais. Porém, a autoridade parental é indispensável para educar, criar consciência e, consequentemente, começar a construir o caráter das crianças. O importante é não confundir “criar regras” com “impor vontades”. E é possível fazer isso tudo sem bater.
Adela Stoppel de Gueller, psicóloga e coordenadora do setor de Clínica e Pesquisa do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientae, chama atenção para o fato de que os pais são, inicialmente, a referência mais importante de autoridade de uma criança – e não devem se esquecer disso nem quando são enfrentados pelos filhos. “À medida em que as crianças crescem e vão ganhando autonomia, elas questionam a autoridade parental e as leis da sociedade. Nesse momento, é importante que os pais mostrem aos filhos que a autoridade que eles detêm não é arbitrária, que não é um capricho”, recomenda.
A psicóloga explica que discutir as decisões tomadas pode desgastar a autoridade dos pais. “É importante que os pais, quando devem dizer não, não tenham que ficar se justificando. Não é a explicação do ‘não’ que coloca as crianças para pensar, é o ‘não’ puro e simples que faz com que elas reflitam pela lei e pelos limites”, defende Adela. A educadora Cris Poli reforça o argumento da psicóloga e afirma que, desde pequenos, temos que aprender que vivemos em uma sociedade que tem limites. “Pais não podem temer deixar os filhos frustrados porque vão negar algum pedido deles. Ensinar, colocando regras, é educar”, fala a apresentadora do programa “Supernanny” (SBT).
Autoridade x autoritarismo 

A linha entre autoridade e autoritarismo parece tênue. Porém, os dois conceitos são bastante distintos. Enquanto autoridade significa impor regras necessárias para um bom convívio, autoritarismo é sinônimo de imposição, uso excessivo de poder. Mara Pusch, psicóloga da Unifesp, diz que autoridade parental não deixa criança alguma retraída ou traumatizada. “Os pais precisam entender que autoridade é mostrar que você tem o poder de decisão sobre o seu filho. O problema é que, quando dessa decisão não é bem exposta às crianças, vira autoritarismo. O filho precisa enxergar que tem autonomia para escolher o que quer, mas que o seu desejo pode ser ou não realizado”.
Uma criança se sente acuada quando sofre uma vigilância constante, quando há controle em demasia sobre as suas ações. Adela destaca que, ao notarmos crianças retraídas ou sufocadas, é preciso pensar que ela está sentido o peso da autoridade como excessivo e que pode não ter forças para suportá-lo. “O retraimento é como um refúgio para os filhos que se sentem assim. É importante que os pais repensem seu lugar e escutem a criança. Às vezes, em alguns desses casos, é a criança quem cria uma imagem de um pai extremamente autoritário e isso não corresponde à realidade. Nessas horas, pode ser importante consultar um especialista”, afirma a psicóloga.
O fim da palmada
Um projeto de lei do governo federal que prevê punição para quem aplicar castigos corporais em crianças e adolescentes está tramitando no Congresso Nacional. Sua aprovação, que é bastante provável, marcaria o fim da era das palmadas e dos beliscões, tão conhecidos pelos adultos de hoje. A discussão, que gera muita polêmica, é tratada por Cris Poli com naturalidade. A educadora defende, desde sempre, que para educar não é preciso bater. “Métodos de disciplina é que ensinam o que é certo e errado. Palmadas e puxões de orelha são usados apenas pelos pais que não conseguem se impor e perdem a paciência com os filhos”, fala. “Eu sequer vejo necessidade de uma lei para proibir isso. O que precisamos é de uma campanha de conscientização disciplinar”, acrescenta a educadora.
Mara defende o castigo como uma boa forma de punição para os filhos que descumprem as regras da casa. Para a psicóloga, o castigo tem que ser algo que tanto a criança quanto o adulto consigam cumprir. Não pode ser uma atitude drástica. “Não adianta o pai ameaçar e não dar conta do recado. Se a criança só fica tranquila com o videogame, e o pai tira isso completamente dela, não vai funcionar. Não defendo castigos assustadores, pois isso gera medo”.
Adela complementa o argumento da psicóloga dizendo que os pais devem refletir sobre os castigos que impõem e admitir quando foram severos demais na hora de aplicá-los. “Admitir um erro não implica em perder autoridade, ao contrário, é algo que pode fortalecer os pais porque a criança vê ali um ser racional, que reflete sobre suas ações”, diz.

Recuperando a autoridade
Nunca é tarde demais para recuperar a autoridade com o seu filho. Pelo menos é o que dizem as três especialistas. Para Adela, antes de tentar resgatar o controle da situação em casa, os pais têm que olhar para si mesmos e recuperar a confiança em si. “Se conseguirem isso, os filhos vão perceber e passar a confiar na palavra deles”, explica.
Para os casos mais graves, quando as crianças já não respondem às regras e fazem birra por qualquer coisa, Mara sugere terapia familiar. “Pode ser bom para o pai entender por que perdeu a autoridade e visualizar a dinâmica da casa. Normalmente, quem está dentro da situação não consegue enxergar direito. É importante também perceber como a criança age em outros ambientes, se é sem limites fora de casa”, recomenda.
Cris Poli afirma que o mais importante é que os pais se convençam de que a autoridade está com eles e que educar é uma responsabilidade, não uma escolha. “A minha experiência indica que o primeiro passo é assumir o papel de educador dentro de casa e se posicionar com firmeza. A partir daí, o pai ou a mãe tem que rever sua postura e tentar mudar o que está errado”, finaliza.

Uma lei para punir ou um programa para educar os pais?

Os objetivos da lei antipalmada seriam mais adequadamente atingidos com a adoção de um programa educativo

Você, como mãe, editaria “leis” como método de educação de seu filho? Pois é, parece que o governo pretende educar os pais a educarem seus filhos justamente por meio de uma lei. Se nos parece que isso não irá funcionar, qual seria o objetivo de proibir os pais de usarem palmadas pedagógicas na educação dos filhos? Os defensores da lei antipalmada afirmam que os castigos corporais aplicados às crianças deixam nelas marcas psicológicas que se manifestam na fase adulta.
Muitos de nós ainda não entendemos esse argumento, até porque levamos algumas boas palmadas quando criança. E, ao recordar de alguma traquinagem que fizemos, reconhecemos ter sido merecedores do tal corretivo por abusar dos limites, ter esgotado a paciência e tirado os pais do sério. Apesar de cada pessoa e cada lar contar com seus padrões e valores familiares, tendo modos diferentes de agir para educar os filhos, passa a existir uma regra de ouro básica que todos devem respeitar: é proibido aplicar na criança ou no adolescente qualquer tipo de castigo corporal. Em resumo, as palmadas pedagógicas não serão mais aceitas no entendimento da lei.
Em minha opinião, cabe aos pais, e não à escola ou ao governo, a responsabilidade de definir como preparar os filhos para se comportarem adequadamente dentro e fora de casa, alimentando a formação de um adulto que tenha educação e equilíbrio para interagir na sociedade. Não se sabe ao certo se o governo quer apenas alertar sobre possíveis traumas que podem resultar dos castigos físicos ou se realmente pretende punir os pais infratores. É mais ou menos como punir uma mãe por pegar o filho pelo braço para levá-lo ao banheiro e escovar os dentes, depois de muitas tentativas de explicar à criança de cinco anos o quanto esse hábito de higiene é importante para sua saúde. Esse caso poderá em tese ir parar no juiz para decidir se a mãe teve um comportamento aceitável ou não.
E, se faz sentido coibir os castigos físicos, não seria necessário criar algumas outras leis complementares que proibissem, por exemplo, os palavrões e insultos dos pais dirigidos aos filhos? Tem lógica admitir que não só a força física, mas também insultos morais possam produzir abalos emocionais semelhantes, com sérias repercussões no adulto. As ofensas verbais desmedidas, de gritos e palavrões dirigidos às crianças, podem ferir muito mais do que as palmadas pedagógicas.
Não estou fazendo uma defesa das palmadas, mas apenas considerando quão restrito será o resultado de sua aplicação. Na realidade, os casos de real violência contra a criança já são punidos pelo código penal e civil. Agora, uma palmada ou outra no bumbum, sem machucar a criança, não deveria suscitar dilemas. Será ridículo ver um pai denunciado à polícia por ter dado uma palmada no bumbum do filho que se jogou no chão do shopping, fazendo um verdadeiro escândalo por não conseguir o brinquedo que queria. E ainda existe a possibilidade de que os filhos se sintam poderosos para começar a agredir os pais, sabendo que estão protegidos pela lei. Não sei se a lei irá tratar desses desdobramentos.
O Brasil quer copiar normas de outros países, sem analisar a cultura local e o estágio de educação da própria população. Nesses dias de debates sobre o uso das palmadas, um pai enviou um email para a CBN perguntando se houve discussão com a sociedade e com os pais antes da definição da regra. Vale reafirmar que não o surgimento da lei não se justifica em função do caso da procuradora de justiça que espancou uma criança de dois anos que estava sob sua guarda. Para extremos como este, já existem penalidades previstas.
Sem dúvida alguma, a principal orientação aos pais estaria relacionada à importância de assumirem a responsabilidade pela educação dos filhos, conversando com eles desde cedo, transmitindo valores éticos, de responsabilidade e respeito nas relações. Então, um programa de educação valeria mais do que uma lei. O desafio atual é o entendimento de como deve ser a educação das crianças em meio a um cenário de tantas mudanças globais. Hoje, elas têm muito acesso à informação desde cedo, estão conectadas com grupos multiculturais, trocam conhecimentos o tempo todo e sentem-se reis e comandantes em seu espaço pessoal. As crianças vão para a escola já com dois anos de idade, ficando o dia todo por lá, com atividades que são ótimas, mas que não substituem a educação que devem receber dentro de seus lares. Que grande questão esta lei levanta.

Vamos brincar de ser pai e mãe?

Vivenciar a rotina sem impor pressões para o lazer: as férias são uma oportunidade de realmente conhecer o seu filho

Ficar perto dos filhos, cuidar deles com calma, ouvir o que eles têm a dizer sem interrompê-los com uma frase que cala crianças o ano inteiro: “Agora não dá, estamos atrasados!” Esse pode ser o melhor programa de férias para quem não consegue dar atenção a eles como gostaria, de tão extensa a lista de tarefas a cumprir todos os dias, inclusive nos finais de semana.

O tempo de contato com os filhos, sem a urgência de um compromisso a colocar fim às conversas e brincadeiras, é cada vez mais reduzido na nossa sociedade. E a família reproduz o modelo da economia ao terceirizar responsabilidades e delegar às escolas e aos serviços especializados grande parte da educação e dos cuidados com as crianças.

Com isso, uma boa parcela da atual geração infantil está crescendo sem conseguir uns minutinhos sequer para tentar amarrar o tênis ou contar uma história fantástica que aconteceu com o amigo. Os pais estão sempre ocupados, fazem tudo correndo e não param para ouvir, olhar ou esperar que as crianças façam coisas sozinhas, com as possibilidades delas.

Que tal aproveitar para ver com alegria como ele já sabe colocar o pijama, como ela consegue fechar a fivela da sandália? O sorriso de satisfação por se ver assistido é a melhor demonstração de que precisamos dar mais tempo às crianças.

É incrível como algumas pessoas se deixam contaminar pelo ritmo frenético do dia a dia e carregam a afobação até para a praia. Calma, deixe que o menino leve o baldinho com os seus apetrechos. Ele vai devagar, derruba pelo caminho, pega de volta, mas chega lá. E chega feliz por conseguir fazer, por poder crescer.

A psicóloga e psicodramatista Norka Bonetti, da Coordenação de Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, concordou comigo sobre a necessidade de dar mais tempo às crianças, pois elas precisam que os pais vejam o que sabem fazer e o que querem aprender.

Segundo ela, muitos pais só descobrem nas férias qual é o ritmo da criança, coisa que não conseguem perceber na rotina predeterminada durante o ano. E mais do que conhecer, é preciso respeitar esse ritmo.

Ela propõe uma semana das férias para ficar em casa e experimentar um jeito de vida diferente. A sugestão é começar com um demorado café da manhã para perceber melhor a família, identificar do que cada um gosta, ouvir o que cada um quer falar. E que esse clima mais solto, sem a rigidez de horários, seja mantido por todo o dia, proporcionando às crianças a oportunidade de ficar à vontade e de manifestar o que querem fazer.

O tempo “mais largo” é importante para que os filhos possam se certificar dos hábitos, posturas e atitudes dos pais. Ao mesmo tempo, cria-se espaço para a criança expressar a sua criatividade, agir com espontaneidade e mostrar o seu jeito de ser. Esse acolhimento é fundamental para a autoestima da criança, que precisa ser reconhecida e aprovada pelos pais para crescer saudável.

O olhar disponível para os filhos também é importante nas viagens de férias. Meninos e meninas querem que a mãe veja como sabem mergulhar, que o pai elogie o castelo de areia que construíram. A criança precisa desses reforços, o endosso dos pais é necessário para o desenvolvimento emocional.

A terapeuta disse que alguns pais, “na melhor das intenções”, muitas vezes impõem um lazer intenso para as crianças, e não conseguem entender que a necessidade real delas é ficar “largadas” ao lado deles. Como investem dinheiro na programação de férias, exigem que os filhos aproveitem tudo, e fazem das recreações oferecidas por pacotes turísticos uma obrigação. As atividades ficam entre os pais e os filhos, atrapalhando a chance de aproximação.

A importância de aproveitar os momentos juntos também ficou clara na conversa com o psicólogo e psicanalista Rubens Maciel, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nas férias, o melhor para a criança é a oportunidade de sentir o amor dos pais, revelado pelo interesse deles. “É fundamental, é como um alimento emocional para a criança”.

O psicanalista disse que esse período deve proporcionar o convívio e a intimidade entre pais e filhos para que a criança possa perceber o investimento afetivo contido na dedicação, no zelo e no carinho com ela. Com o cuidado amoroso que recebe no banho, na hora de escolher a roupa, nas refeições, nas brincadeiras, a criança se sente desejada pelos pais. E acreditar nisso é importante demais para o desenvolvimento infantil.


Com quem o bebê vai ficar?

Com grande parte das mães trabalhando fora, decidir com quem a criança vai ficar requer planejamento e atenção. Avaliamos os três principais recursos: escolinha, babá e avó


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Cuidado e proteção: decidir com quem deixar o bebê ao voltar ao trabalho deve ser escolha bem planejada
Ainda durante os primeiros meses de contato com o rebento, pais e mães se vêem às voltas com uma questão inevitável na vida moderna: com quem deixar a criança quando a licença-maternidade chegar ao fim? Com exceção daquelas mulheres que abdicam do trabalho para se dedicarem integralmente aos filhos, a dúvida paira sobre os casais que procuram equilibrar as suas possibilidades com a vontade de fazer o melhor pela criança.


Creches, babás e parentes costumam ser as possibilidades mais comuns e cada perfil de pais parece se adaptar melhor a cada uma delas. Além disso, questões como a disponibilidade financeira, a existência de um outro irmão e a proximidade geográfica com os avós contam na hora de optar.


Abaixo, um balanço das vantagens e desvantagens e o que deve ser levado em conta na hora de avaliar cada opção.

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Pré-escola: flexibilidade de horários e convívio com outras crianças são as vantagens
Vantagens


Têm preço variável e que atendem a diversos perfis financeiros. A maioria sai mais em conta que contratar uma babá por período integral. Outras custam mais caro até que uma mensalidade de universidade.
Têm flexibilidade de horário. É comum escolinhas e berçários que oferecem horários diversos, por módulos. Nessas escolas, a mãe pode escolher um período (de manhã, de manhã e à tarde ou de manhã até o fim da tarde) de acordo com o tempo que fica fora de casa.
Segurança. Diversas pessoas vigiam as crianças e o ambiente é adaptado para elas, diminuindo o risco de acidentes e maus tratos. A relações públicas Maíla Mortoni, 34, mãe de Giovanna, de 2 anos, optou por botar a filha na escolinha quando ela tinha dez meses. Maíla acredita que a segurança é a principal vantagem, mas defende que a confiança na instituição é fundamental. “Confio muito nas ‘tias’ e sei que posso ligar a qualquer hora para pedir notícias dela que vou ficar sabendo de tudo o que aconteceu”, conta.
Estabilidade. Como a escolinha ou creche é uma instituição que atende a várias crianças, se uma “tia” ficar doente ou faltar por problemas pessoais, alguém vai substituí-la e a mãe não vai ficar desamparada.
Convívio. Crianças se divertem quando estão juntas e também se desenvolvem mais quando observam os amiguinhos. “É impressionante como ela passou a ter um repertório próprio de brincadeiras e de musiquinhas. Vejo que ela começa a formar sua própria vidinha”, diz Maíla, que também observou que a filha come melhor nos dias em que vai à escola. “Ela vê as outras crianças comendo frutas e come também. Em casa, é um drama!”, relata.




Desvantagens


Leva e traz. Em tempos de congestionamentos garrafais, levar e buscar as crianças na escola pode ser um martírio – ainda mais na hora do rush. Para evitar atrasos e perda de tempo no trânsito, é indispensável escolher uma escola perto de casa, pelo menos até a criança ter idade para andar no transporte escolar – o que algumas vezes implica em não matricular na escola que seria a primeira opção dos pais.
Contágio de doença é a maior reclamação dos pais de crianças em escolinhas, principalmente das que ainda não completaram um ano de vida. O médico pediatra homeopata José Armando Macedo, membro do Espaço Potencial, grupo de estudos ligado ao Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, diz que o sistema imunológico infantil está em formação até os três anos de idade e que frequentar a escolinha ou a creche antes disso vai acarretar em alguns períodos de doença. Ele alerta que esse quadro pode ser mais intenso com os bebês por uma questão emocional. “Como bebês precisam de muita atenção e na escolinha precisam disputá-la com outras crianças, isso resulta em um estresse que diminui a imunidade, tornando-os mais suscetíveis a doenças”, explica.
Para Maíla não é diferente: “todo inverno eu sofro. Quando o tempo fica frio e seco ela fica com febre quase toda semana e, no ano passado, até gripe suína ela pegou”, lamenta. Além da preocupação com a saúde da criança, quando a escola é o único recurso para deixar os filhos, em caso de doença a mãe precisa faltar no trabalho ou ter um plano B até a criança se recuperar.
Adaptação. A adaptação na escolinha depende de como é feita a transição do convívio com a mãe para a escola e também do perfil da criança. Maíla ficou “grudada” com a filha até os dez meses, mas a bebê se adaptou rapidamente à nova rotina. “Ela nem chorava. Eu, em compensação, chorei durante um mês”, conta ela. Já a primeira filha do fotógrafo Charles Naseh, hoje com 11 anos, foi à escolinha com um ano e meio e não se adaptou. “Ela era muito grudada à mãe, que tinha ficado exclusivamente com ela até então, e colocamos na escola de repente. Não deu certo e passei a deixá-la com minha mãe”, lembra. O impacto foi tão grande para os pais e para a menina que ela só voltou à escola com cinco anos.
Adela Stoppel de Gueller, professora do curso de formação em psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae e do curso de especialização de Teoria Psicanalítica da PUC-SP diz que, não só na escola, mas em qualquer caso, a transição gradual é melhor. “É bom que a mãe fale bastante com o bebê lhe contando que em breve vai sair para trabalhar e que vai deixá-la com tal pessoa, mas vai voltar e ficar junto novamente. Também é interessante que ela saia algumas vezes por períodos mais curtos, deixando o bebê com o encarregado, para ver como o bebê vai reagindo”, explica.

Avó ou outro parente: vantagens e desvantagens

Confira os prós e contras de deixar seu filho com avós ou outro parente e saiba que pontos considerar na hora da escolha


Foto: Arquivo pessoal
Charles Naseh e a mulher deixam Yasmin, de um ano, com a avó: "não há tranquilidade maior".
Vantagens


Confiança. Quando a criança vai ficar sob os cuidados de um parente, os pais ficam relaxados por saber que o bebê está com alguém que vai tratá-lo bem. “Quando a avó tem a empolgação necessária para cuidar da criança, não há tranquilidade maior”, diz o fotógrafo Charles Naseh, que deixa sua filha mais nova, Yasmin, de um ano e meio, todos os dias com a avó.


Horário flexível. Para profissionais que não têm uma rotina de horário, deixar com a avó pode ser uma mão na roda, já que não é preciso contar com limitações de horário, diariamente. Se algum imprevisto acontecer, a criança pode até dormir fora.


Carinho. Os parentes e especialmente os avós têm fortes laços afetivos com o bebê, o que é garantia de que ele será tratado com amor. Adela afirma que, no caso dos bebês bem novinhos, a avó é a melhor opção. “A avó tem um laço amoroso com a criança e está em contato com ela desde que nasceu, então a transição da mãe para a avó é mais fácil”.


Baixo ou nenhum custo. Ainda que seja possível que os pais negociem uma ajuda de custo para que avó cuide do neto, essa opção sem dúvida é a mais em conta das três.




Desvantagens

Estímulos limitados.
 Ainda que a avó seja muito dedicada, quando a criança começa a andar é difícil acompanhar o pique. Muitas vezes recursos como TV passam a ser utilizados para a criança “dar uma folguinha”. Se a criança não tem irmãos ou primos que dividem a guarda da avó nesse período, o convívio com outras crianças também fica limitado. Por isso, Charles já está buscando uma escolinha para Yasmin. “Ela já tem vontades próprias e adora encontrar outras crianças. Achamos que seria legal ela ficar com bebês da idade dela, pelo menos para ver como ela reagiria”, diz ele.

Babá: vantagens e desvantagens

Confira os prós e contras de deixar seu filho com uma babá e saiba que pontos considerar na hora da escolha


Foto: Arquivo pessoal
Maíra Habimorad queria que sua filha Stella tivesse atenção exclusiva desde o começo
Vantagens

Praticidade.
 Não é preciso deslocar a criança para outro ambiente ou enfrentar trânsito. A babá respeita um horário pré acordado com a família, que seja vantajoso para a mãe poder trabalhar.



Cuidado exclusivo. Se a criança tiver mal estar, estiver suja ou com fome, ela será prontamente atendida, o que é especialmente importante nos primeiros meses de vida. A diretora de recursos humanos Maíra Habimorad, 30, voltou a trabalhar logo que sua primeira filha Stella, hoje com 1 ano e 3 meses, nasceu. “Era importante que ela tivesse essa atenção toda no começo”, defende ela. Além desse ponto, a maioria das creches não aceita bebês com menos de quatro meses e mulheres que não têm direito à licença maternidade têm na babá um excelente recurso.


Prevenção de doenças. Além de a criança estar em um ambiente conhecido e familiar a ela, é mais fácil controlar o contágio de doenças, com a manutenção da limpeza e limitando o contato com outras pessoas.
Desvantagens


Falta de confiança. Se a mãe não tiver confiança de que a criança será bem cuidada, é melhor optar por outra forma de auxílio. Para ficar tranquila, Maíra contratou uma babá com excelentes referências e chamou a empregada doméstica da família para acompanhar seu trabalho nos primeiros meses. “Não ia conseguir deixá-la com uma pessoa estranha sem supervisão por um período inteiro”, explica.

Custo. 
A opção por babá é a mais cara, especialmente se a mãe procura alguém com referências, bem treinado e realmente especializado.


Transferência e relação íntima com a babá. Não são raros os casos de babás que querem agir como mães e mães que temem perder o amor dos filhos para a babá. Maíra fez questão de procurar uma profissional que tivesse uma postura adequada. “Ela não tenta me substituir e ajudou a Stella a saber quem é a mãe”, conta. Carinho na medida – “nem abraço e beijo demais e nem de menos”- e consciência dos limites com a casa e com a criança foram pontos que Maíra acha indispensável – e nem sempre são respeitados pelas babás.
A psicóloga Adela, no entanto, diz que são raros os casos em que a criança passa a preferir a babá à mãe, quando esta volta para casa. “O problema nesse caso não é a criança ter estabelecido um laço amoroso com seu cuidador, mas é preciso que ver o que acontece na relação dessa mãe com esse filho”, diz. Apesar disso, a psicóloga adverte as mães que não levem tão a sério algumas pequenas estratégias de seus rebentos. “Às vezes acontece de a criança ‘se vingar’ da mãe e não querer ir com ela. É seu modo de dizer ‘você foi embora agora eu te abandono’. A mãe deveria brincar esse jogo proposto pela criança, sem se sentir ofendida ou abandonada”, conclui.


Faltas e trocas. Quando a babá é a única pessoa que pode ficar com o bebê na ausência da mãe, é indispensável que ela seja uma profissional dedicada e responsável. Mesmo assim, imprevistos podem acontecer e, se a babá faltar, a mãe inevitavelmente faltará no trabalho também. Babá mal escolhida ou mal treinada pode levar a sucessivas trocas, o que gera um grande desconforto para o pequeno. “A criança estabelece um laço afetivo muito forte com o cuidador e cada mudança lhe produz muito sofrimento”, diz Adela.


Mimo e falta de disciplina. Muito se fala que o papel dos avós é “estragar” os netos – e isso não chega a ser um problema quando acontece ocasionalmente. Ainda que muitos deles possam ser aliados na hora de educar os netos, se a avó ou avô não concordam com alguma limitação ou norma estipulada pelos pais, é bem provável que elas não sejam seguidas no dia a dia da criança, o que certamente vai atrapalhar sua educação.

Entenda a linha pedagógica da escola do seu filho

Conheça os diferentes métodos das escolas do país e saiba o que pode ser oferecido ao ensino das crianças


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Independentemente da linha pedagógica, a criança deve estar esquilibrada e feliz na escola
Levar o filho para o primeiro dia de aula não costuma ser uma tarefa fácil, mas ainda mais difícil é escolher a escola adequada. Com diferentes métodos de ensino, muitos pais ficam confusos na hora de decidir qual é a linha pedagógica mais indicada para a educação da criança. 


Os especialistas em educação afirmam que uma criança saudável e sem grandes problemas emocionais se dará bem em qualquer escola, independente do método adotado, mas a linha pedagógica deve ser escolhida de acordo com a personalidade de cada criança - aquela em que ela tem mais chances de se adaptar e levar uma vida equilibrada.


É preciso ter em mente que muitas instituições de ensino estão misturando os vários métodos pedagógicos, o que para a pedagoga e psicopedagoga Mara Gitti Assis, da Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico (EDAC), de São Paulo, não é algo correto. No entanto, ela acredita que o verdadeiro educador busca o que é mais adequado para cada aluno. “Você pode ter uma escola construtivista, mas o aluno pode necessitar de algo mais tradicional, por exemplo. O educador deve saber a necessidade da criança”, alega Mara. 


Saiba o que oferece e como funciona o método das diferentes linhas pedagógicas que são adotadas pelas instituições do país.
Escola Tradicional
Nesta linha pedagógica, a mais utilizada no Brasil, o professor é o dono do saber e o aluno caminha na medida em que ele vai adquirindo o conteúdo. A criança, nesta escola, deverá absorver todo o conhecimento que o professor transmite, sem questionamentos. O professor ensina a matéria de forma sistematizada e não precisa levar em conta as particularidades de cada aluno. Este é um método utilizado também nas Universidades do Brasil. É uma linha interessante para crianças que não possuem grandes dificuldades de aprendizado, já que o conteúdo pode ser decorado. 
Método de avaliação: A linha tradicional mede o conhecimento memorizado do aluno, que é transmitido pelo professor, por meio de uma prova. Quem não atinge a pontuação mínima, é reprovado e deve cursar o ano novamente.
Escola Comportamental
É uma linha muito semelhante à Tradicional, colocada em prática pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, mas, nesta prática, o ensino é conduzido através de estímulos, com uma troca constante entre professores e alunos. Desta maneira, o educador questiona e, conforme a resposta do aluno, ele vai moldando o conteúdo e conduzindo as crianças à realidade. 
Método de avaliação: É idêntica à tradicional, com a possibilidade do aluno ser reprovado se não atingir a pontuação mínima.
Escola Construtivista
Nesta pedagogia, criada por Jean Piaget, o aluno deve adquirir autonomia e formar o seu aprendizado por meio da construção de hipóteses e resolução de problemas. Diferente da Escola Tradicional, o professor não detém totalmente o saber, ele é um orientador dos interesses das crianças. É o oposto da linha tradicional.
Método de avaliação: Na maioria das escolas que segue esta filosofia, a avaliação é contínua, ou seja, o aluno é avaliado durante todo o ano escolar. No entanto, há escolas que aplicam a avaliação comum da escola tradicional.
Escola Montessoriana
Este método pedagógico, criada por Maria Montessori, parte do princípio de que a criança precisa ter uma experiência concreta para chegar à abstração, pois somente assim ela assimilará o conhecimento. As salas de aula das escolas que seguem a linha montessoriana costumam ter, em média, 20 alunos, e diferentes materiais para realização das aulas. Ali, os alunos podem escolher as atividades do dia, mas é preciso que ele cumpra o programa obrigatório para poder avançar. Com isso, o professor conduz o processo escolar. 
Método de avaliação: Depende muito da escola. Pode haver uma prova agendada anteriormente ou apenas a avaliação do empenho e interesse do aluno.
Escola Waldorf
Neste método de ensino, a criança possui o mesmo professor e turma durante todo o ensino fundamental e aprende de acordo com o ritmo do seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual. Na pedagogia criada pelo austríaco Rudolf Steiner, o interesse e os questionamentos do aluno são muito respeitados. Além das matérias tradicionais, há aulas de jardinagem, música, marcenaria e teatro no currículo escolar.
Método de avaliação: O aluno tem o seu conhecimento e suas aptidões medidas em sua atuação ao longo do ano, por meio de relatórios descritivos. Se tiver muitas dificuldades de adaptação, pode ser aconselhado a mudar de classe ou escola.
Escola Freiriana
Baseada nos ideais de Paulo Freire para a alfabetização, os aspectos culturais, sociais e humanos são muito considerados nesta linha pedagógica, portanto, a criança que vive no campo, por exemplo, será educada de forma distinta da criança que vive na cidade. Além disso, neste caso, o conhecimento só fará sentido quando o aluno se tornar capaz de transformar seu mundo externo e interno. Na linha Freiriana, a ética, a humildade, o respeito e a solidariedade, entre outros aspectos, são bastante defendidos e a educação está mais ligada à felicidade pessoal. 
Método de avaliação: Também ocorre continuamente, a criança é avaliada ao longo do processo educacional.

Como ajudar seu filho a se adaptar na nova escola

Veja como você pode lidar com as dificuldades dos primeiros dias de aula


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Novos professores e o lugar estranho são as queixas mais frequentes das crianças
As escolas se transformam em um território desconhecido para as crianças no início do ano escolar. Os alunos vão precisar se adaptar aos horários, regras, rotina, professores e novos amigos. Tanta novidade pode tornar o novo ambiente em um cenário assustador, capaz de criar manha, cenas na porta da escola e até mesmo pânico nas crianças. Porém, os pais podem desempenhar um papel importante nesta fase e tentar amenizar o medo para que os pequenos enfrentem com mais segurança a nova etapa.
Os novos professores e o lugar estranho são as queixas mais frequentes das crianças. A psicopedagoga Maria Cecilia Galelo Nascimento Zaniboni fala da importância dos pais demonstrarem ao filho a confiança que depositam na nova escola e que eles acreditam que é a melhor escolha que fizeram para ele. “Mostre que é normal ter tais sentimentos neste momento de transição e que ele conseguirá superar e ainda gostará tanto ou até mais do que sua antiga escola. Deixe claro que também depende dele querer essa adaptação e, acima de tudo, pode contar os pais para ajudá-lo neste período.”
As crianças pequenas têm menos recursos emocionais para mudanças, pois tudo que é diferente e acontece longe dos pais as deixam inseguras. É interessante nunca fazer mudanças sem preparar a criança, ir com ela visitar o local e conhecer as pessoas que trabalham ali.
Maria Cecília lembra que as crianças maiores normalmente já têm percepção e maturidade para se adaptar de uma maneira mais tranquila.
Sem acordo
Se depois de dias ou semanas a criança continuar resistindo em frequentar as aulas, a presença dos pais na escola será obrigatória. Segundo Maria Irene Maluf, pedagoga especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, pode ser necessário solicitar uma conversa com a orientadora e pedir, sem aviso prévio, para ver o filho naquele momento.


“Às vezes, as crianças fantasiam ser mal tratadas para chamarem a atenção dos pais. Por isso é bom ir sem avisar. Se for manha da criança, dá para conversar, explicar que não é possível mudar de escola antes do meio ou do final do ano. Em geral, depois de um tempo maior, as próprias crianças não querem mais sair da escola”, explica ela.
As dificuldades mais comuns que as crianças enfrentam
- Falta de entrosamento com os novos colegas
- Adaptar-se a novas regras
- A dificuldade de entender o espaço físico da nova escola
-Não conhecer os professores e funcionários e, consequentemente, não se sentir segura e amparada
- A saudade da escola anterior, sentindo falta dos colegas, professores e funcionários, inclusive do espaço físico.
Como os pais devem lidar com os problemas de adaptação das crianças
- Ir a escola é obrigatório. E ponto final
- Se a criança tiver mais de seis anos, deixar que resolva entre duas ou três escolas escolhidas pelos pais, isso faz com que se sintam participantes. Mas escola sempre é uma decisão final que cabe aos pais, até o final do colegial
- Levar a criança até o local antes do início das aulas para que ela conheça o ambiente e, se possível, os professores. Isso diminuirá o impacto do primeiro dia de aula
-Em muitos casos são os pais que não se adaptam aos novos horários, lugares, normas e acabam transferindo isso indiretamente aos filhos. Portanto, escolhida a escola é proibido falar mal dela
- Se depois de muita conversa a criança fizer manha, deixe claro que estará esperando por ela na hora da saída e trate a situação com naturalidade.

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