segunda-feira, 18 de abril de 2011

Série - Histórias que valem a pena ler!

Quer mudar algo na sua vida? Então tome uma atitude

Não basta desejar uma mudança, especialistas dizem que é fundamental estabelecer como isso será feito


Foto: Getty ImagesAmpliar
O objetivo é emagrecer? Esqueça a sobremesa!
Relação com a família, emprego, salário, amor. Quem não quer mudar alguma coisa em sua vida? Ao mesmo tempo, é fácil cair na armadilha de colocar metas de mudança que não chegam nunca, como um regime que se estende indefinidamente sem trazer resultados, ou o plano de mudar de emprego que fica sempre para o outro ano. Saber o que fazer não é suficiente: o “como” é fundamental, de acordo com os especialistas ouvidos pelo iG.
Mudar o quê?
O primeiro passo é focar exatamente no que se quer mudar. “O que é ‘mudar para melhor’? Seja na perspectiva do trabalho, relações pessoais ou qualidade de vida, implica num passo básico que é sair da zona de conforto”, afirma Sandra Maia, psicóloga e doutora pelo programa de pós-graduação da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de SP. “Sair da zona de conforto implica num custo emocional muito grande. Mudar é partir para o desconhecido, que é assustador”. Por exigir esforço, coragem e dedicação, é necessário avaliar o quanto uma mudança é significativa e se ela vale todo o investimento.
Leia também:
- Conheça a história de três mulheres que conseguiram mudar seu destino e ficaram milionárias
- Bati minha meta em 2010!

“Mudar nunca é uma coisa agradável, mas geralmente acaba valendo a pena”, afirma Sandra. Ela dá o exemplo de quem quer transformar o corpo. “Para ganhar o corpo novo, você tem que perder o velho. Cada ganho representa uma perda também. Até a perda de coisas ruins é de certa forma dolorosa. Muitas vezes é um apego mórbido até, seja em relacionamentos ou em uma profissão”, afirma a psicóloga. Isso inclui abandonar hábitos antigos ligados à mudança. Em outras palavras: quem decideperder uns quilinhos precisa entender que sobremesa todo dia, nunca mais.
Tomada de decisão
De acordo com Sandra Maia, o momento em que se dá o “clique”, a tomada de decisão, é chamado de “pré-contemplação”. “É quando você está no avião, com o paraquedas nas costas, e decide pular.” Trata-se de um momento individual, intransferível e incompartilhável. Não adianta avisar a família que vai parar de fumar se a decisão interna não foi tomada ou formar um grupo de corrida se por dentro a convicção de praticar o esporte não veio.
Entra aí também o planejamento, a definição de como serão as mudanças. Otimismo, determinação e uma dose de realismo ajudam. “É bom quebrar grandes objetivos em metas pequenas”, afirma Miriam Barros, psicóloga clínica e psicodramatista. Se a pessoa quer ter uma vida social mais ativa, pode se colocar pequenas tarefas: ligar para um amigo com quem faz tempo que não conversa, convidar alguém para tomar um café. “As pessoas perdem de vista que as decisões têm um custo e levam tempo para dar retorno. Você quer um mega emprego, mas não quer fazer o curso de inglês. Ir fazendo as pequenas coisas sem ter a gratificação imediata é fundamental. A vida é aos poucos, é preciso ter paciência”, afirma.
Como não desistir
Por que algumas pessoas conseguem abraçar um objetivo e cumpri-lo de pronto, enquanto outros empacam no meio do caminho? “Cada um tem uma estrutura psíquica diferente. Tem gente que se dá muito bem fazendo pesquisas num assunto e se preparando para a mudança. Outras precisam de um infarto para mudar de vida. A vivência traumática funciona para uns, assim como outros têm infarto e continuam fumando, bebendo e ingerindo gordura’, exemplifica Sandra. Nos casos de pessoas que não conseguem avançar nos seus projetos de mudança, vários recursos podem trazer melhoras, de auto-ajuda a terapia. “Quando você não tem o equipamento psíquico disponível, você utiliza ferramentas. Terapia é uma delas, mas não a única que pode ajudar.” Ela alerta também que não existe mágica: “10% é vontade de mudar, os outros 90% , puro esforço”.
Para Miriam, os principais vilões são pensamentos e sentimentos negativos, que atrapalham. “Normalmente não é nada externo. Os demônios internos são os mais difíceis de matar”, afirma a psicóloga. “Quem tem preguiça e tendência a procrastinar tem que fazer um investimento e um trabalho maior.” Outro inimigo comum é culpar o outro, ou circunstâncias adversas, pela dificuldade de mudar. “para superar isso, a pessoa precisa passar por uma conscientização. Essa sensação de que o poder de mudar é seu faz bem para a autoestima e para vencer desafios”, afirma Miriam.

7 dicas para 2010 superar as suas expectativas

Baseada na Programação Neurolinguística, especialista ensina o que deve ser feito para que suas aspirações não se percam no ano


Foto: Marcos Mendes/FotoarenaAmpliar
Márcia Dolores Rezende: é preciso definir os objetivos e dedicar-se a eles de forma positiva
De acordo com a Programação Neurolinguística (PNL), nosso comportamento e todas as atitudes que tomamos estão interligados por uma programação do cérebro, que consiste em sequências de pensamentos e diálogos internos. Segundo a psicóloga neurolinguista, especialista em comportamento humano, Márcia Dolores Rezende, não costumamos perceber racionalmente essa programção, ela acontece de maneira automática. Mas se a desenvolvemos, ela pode nos ajudar a alcançar nossas metas.

Na prática, é como se este funcionamento determinasse as ações. “Quando monto uma estratégia, ela se efetiva no cérebro e ele origina as atitudes. Toda vez que você toma uma atitude, o seu corpo inteiro se comunica coerentemente de acordo com o que você está sentindo”, explica Márcia, que enfatiza a fala como a linguagem mais importante na programação do cérebro.

A PNL propõe, principalmente, que, para realizar objetivos, é preciso primeiro defini-los e dedicar-se a ele com uma perspectiva positiva. Segundo a especialista, “ela ajuda a direcionar a força do pensamento para alcançar o desejado”. Portanto, para o início de 2010, as dicas abaixo podem trazer um poder maior de realização. E um ano melhor, consequentemente.

1 – Saiba que a mente, ao lado da positividade, pode dar maior potência no caminho das realizações. Mantenha este conhecimento vívido.

2 – Realize um balanço de tudo o que aconteceu em 2009 e avalie o deu certo e o que não deu; assim, será possível tomar uma atitude diferente da próxima vez.

3 – Diga o que você quer, e não o que você não quer. Ao dizer “não quero sofrer” e “não quero ficar sem dinheiro”, por exemplo, o cérebro desconsidera a palavra negativa e você vai continuar vivendo aquilo. É como se te pedissem para não imaginar uma pizza de marguerita: automaticamente, será o pensamento seguinte que o seu cérebro terá. Portanto, fique atenta.

4 – Estruture seus objetivos e separe-os por setores como profissional, de desenvolvimento, de lazer, afetivo. Defina as metas para cada grupo e foque em uma de cada vez. Não faça tudo ao mesmo tempo, pois a eficácia acaba diminuindo.

5 – Estabeleça parâmetros para acompanhar suas metas, seja num caderno, num diário, pelo Outlook, ou até no quadro de recados da geladeira. O importante é acompanhá-las, passo a passo, para não ficarem esquecidas de nenhuma forma.

6 – Defina um prazo que, de preferência, seja atingível e coerente. Se, por acaso, você estabeleceu que irá guardar 5% de seu salário durante o período de um ano, siga um tempo especificado: de 15 de janeiro a 15 de dezembro. Isto favorece o alcance do objetivo e não permite que ele seja deixado para trás.

7 – Abuse da imaginação. Visualize seu desejo intensamente, pois se ele for representado dentro do cérebro é possível fazer uma avaliação ainda maior da importância dele. É uma maneira de se aproximar do valor – ou falta de – daquilo que se almeja, facilitando o conhecimento de que você realmente quer aquilo.

Bati minha meta em 2010!

Conheça as histórias de quatro mulheres que cumpriram seus objetivos de ano-novo

Quem nunca terminou o mês de dezembro fazendo lista de boas intenções? É natural querer consertar desvios e focar esforços para atingir objetivos e realizar sonhos no ano-novo. Inspire-se com as histórias de quatro mulheres que venceram seus desafios em 2010 e bateram suas metas.
Emagreci e comecei uma nova vida
“Em dezembro faço 11 meses de gastroplastia, pertinho do Natal. É um presente saber que alcancei o peso desejado”

Foto: Fabrizio Motta dos Santos/ FotoArena
Caroline perdeu 50 quilos e espera gêmeos
Bebê rechonchuda, Caroline Carvalho cresceu ouvindo do pai: “menina linda da perna grossa, vestido curto, papai não gosta”. Na adolescência, a aceitação foi mais difícil. Aos 18 anos e com 125 quilos ela destoava das loiras esguias descentes de alemães, em Blumenau. “Sair com os amigos, namorar... todas estas situações normais para uma adolescente tornaram-se insuportáveis para mim”, lembra ela, hoje com 27 anos.
Numa consulta médica, descobriu que tinha problemas hormonais e fez o primeiro tratamento para emagrecer. Caroline chegou aos 78 quilos, mas voltou a engordar. Foi então que ela decidiu fazer a gastroplastia – uma cirurgia que reduz o tamanho do estômago. “Após toda a preparação inicial, decidi em outubro de 2009 que iniciaria 2010 com o pé direito e que até o final do ano alcançaria meu objetivo: emagrecer e iniciar uma nova vida”, conta a atriz e contadora de histórias. A cirurgia foi em 13 de janeiro e, nas palavras de Caroline, “transcorreu maravilhosamente bem”.
Em alguns dias, ela passou a se alimentar com líquidos e, ao longo das semanas, reaprendeu a comer, seguindo orientações totalmente novas. “No total foram 50 quilos eliminados para todo o sempre deste ‘corpitcho’, mas não sem esforços”, diz a atriz. “Não foi fácil, mas nada paga olhar no espelho, adorar o que está vendo e saber que tudo isso é resultado do esforço e da disciplina”, afirma. A rotina ganhou várias suplementações nutricionais e injeções de vitamina B12, das quais Caroline tem pavor. “Em dezembro faço 11 meses de gastroplastia, pertinho do Natal. É um presente saber que alcancei o peso desejado.” Além da recompensa estética, Caroline consegue dar conta muito melhor do trabalho de atriz, com mais fôlego e resposta melhor do corpo.
Além da meta cumprida, ela ganhou um presente inesperado: há um mês descobriu que está grávida. “Depois do susto, choro, desespero, fui ao cirurgião com muito medo e certa de que receberia uma 'lavada'. Meu médico me parabenizou, ficou feliz e ainda me disse que um bebê é sempre um presente de Deus. Tanto desespero por nada?”, brinca Caroline. “Não há nada mais incrível do que saber que dentro de mim existem três corações pulsando, o meu e mais dois que dão vida ao que mais desejo neste momento, meus bebês”, diz a futura mãe de gêmeos.
Por conta da operação, Caroline ainda emagreceu seis quilos desde o início da gravidez, mas já sabe que vai engordar até o fim da gestação. “Que venha um barrigão para acomodar esta turminha. Sei que ganharei alguns quilinhos, mas a gata aqui corre atrás do prejuízo assim que os bebês nascerem”, se empolga. Mais planos, mais desafios, novas alegrias previstos para o ano que vai chegar.
Larguei o cigarro
“Se eu consegui parar de fumar, consigo qualquer coisa na vida”

Foto: Eduardo Cesar/ Fotoarena
Depois de 25 anos fumando, Maria conseguiu largar o cigarro
Por 25 anos, a bioquímica aposentada Maria de Los Angeles Rodenas Garcia, 58 anos, foi escrava do cigarro. Morria de vergonha. “Eu não nasci fumando, não quero morrer fumando”, diz. O hábito começou com uma decepção amorosa e quando ela se deu conta já havia virado um vício. Eram duas carteiras de cigarro por dia. Ao longo de todos esses anos, houve diversas tentativas de largar o fumo, mas as recaídas sempre estragavam tudo.
Maria não estava feliz consigo. “Passei 2009 inteiro pensando nisso e tomando coragem. Em janeiro, decidi que desse ano não passaria. Foi minha resolução de ano-novo”. E dessa vez, ela resolveu fazer tudo diferente: procurou um médico e entrou em um programa antitabagista com mais recursos. Para lutar contra a ansiedade provocada pela falta repentina de nicotina no metabolismo, Maria se inscreveu numa academia. “Já sou por natureza ansiosa. Dessa vez, saí do médico, comprei a medicação e já comecei a musculação na semana seguinte”.
Maria não engordou – medo comum de quem quer largar o cigarro – e até emagreceu alguns quilinhos. “As pessoas dão dez anos a menos para mim hoje. A pele está mais clara, cabelo e olhos mais brilhantes, até meu jeito está mais faceiro”, conta a bioquímica, que voltou a ser paquerada. “Minha autoestima mudou muito”. Tanto que ela desengavetou outros projetos, como a reforma da casa. “Não tinha coragem de pintar as paredes porque sabia que a fumaça iria amarelá-las”, conta Maria.
Para o programa dar certo, tomou remédios para ansiedade por quatro meses, pastilhas de nicotina e investiu muito em autoconhecimento. “Estou desenvolvendo técnicas próprias para lidar com a ansiedade, me conheço muito melhor hoje”, diz. Quando bate a fissura pelo cigarro, ela a dribla com caminhadas, ginástica ou sessões de ioga na praça perto de casa. “Se eu consegui parar de fumar, consigo qualquer coisa na vida. É uma medida de valor mesmo”. Uma resolução forte, que dependeu da noção de que o tratamento continua, mesmo depois de dez meses sem fumar. “Não sinto mais falta do objeto cigarro na minha vida”. Maria venceu a queda de braço.
Comprei meu apartamento
“Sempre tive vontade de comprar minha casa. Estou adorando ter meu cantinho”

Foto: Guilherme Lara Campos/ Fotoarena
Camila Lima poupou por dois anos e em 2010 mudou para o próprio apartamento
Primeiro, pagar a faculdade. Depois, comprar sua própria casa. Esses eram os planos de Camila Lima, administradora, 27 anos, para 2010. “Fiquei economizando por dois anos e meio para poder dar a entrada no apartamento”, conta. Há três meses a rotina se repete: ela sai do trabalho e ruma para um canto só seu – e por lá se delicia com os pequenos prazeres da vida de quem mora sozinho. “Tenho controle remoto só para mim”, comemora. “Chego e curto o básico: é bem silencioso, ótimo para ler. Cozinho, faço coisas que eu gosto”, diz.
Camila tem família grande, e embora quisesse o sossego, se organizou para ficar pertinho dela. “Se canso do silêncio, meus parentes estão em bairros vizinhos”, diz. Para montar a casa, contou com a ajuda dos pais e muito planejamento. “Foi difícil, porque ao morar sozinha todos os gastos vêm para você”, afirma.
O sonho é antigo, mas Camila se programou para conseguir realizá-lo dois anos depois de terminar a faculdade. No começo de 2010, começou a procurar imóveis em sites, e foi tudo muito rápido: encontrou uma boa oportunidade em abril, fechou o negócio em maio e se mudou em agosto para o novo apartamento. Agora, é se acostumar com a vida nova. “Estou pegando a manha ainda, porque tenho só o fim de semana livre para cuidar da casa. Mas está valendo muito a pena”, diz.

Claro que houve sacrifícios para cumprir a meta no prazo. “Muitas vezes dava vontade de pegar o dinheiro guardado e fazer uma viagem bacana, mas resisti”. O lazer não ficou de lado, Camila fez substituições para se divertir com menos dinheiro. “Não vai dar pra fazer uma viagem pra Europa, mas vamos para Montevidéu”, brinca. Pela alegria no rosto dela, não há dúvidas de que valeu a pena.
Casei!
“Meu casamento ficou melhor do que eu esperava. Era tudo que eu queria”

Foto: Christian Hara/ acervo pessoal
Driblando várias dificuldades, em 2010 Adriana Liu teve o casamento dos seus sonhos
Adriana Liu, secretária trilíngue de 32 anos, não queria mais noivar. “Fui noiva duas vezes e não casei. Não queria ser noiva de novo”, diz. Conheceu Alberto Ngai e, em menos de um ano de namoro, em junho de 2009, ele a pediu em casamento. “Pensamos: ‘vai ser daqui a um ano’”, conta a secretária, emocionada. “Eu nunca namorei tão rápido, sempre tive namoros de cinco ou seis anos”, diz.
Se pudessem, teriam casado em 2009 ainda, mas como os dois estavam trocando de empresa, a fase era turbulenta demais para organizar uma festa desse porte. “Então decidimos casar em 2010 de qualquer jeito”, diz Adriana. Aí começou o desafio: planejar um casamento em poucos meses, com um orçamento relativamente limitado, unindo as famílias e acertando a agenda de modo que o pai de Adriana, que estava na China cuidando da mãe doente, pudesse comparecer à cerimônia. “Meu sonho era entrar na igreja com meu pai”, afirma.
Ao ir num casamento no mesmo local em que gostaria de se casar, Adriana encontrou Jamila Santana. Ao ver a organizadora com a mão na massa, arrumando a mesa de docinhos, decidiu para quem pediria ajuda. “É tanta informação que você fica perdida”, desabafa a secretária. “Foi um milagre, porque eu não tinha condição de pagar muitas coisas, e com os contatos dela, consegui fazer um casamento incrível dentro do meu orçamento. Chorei, tirei fotos com todos os fornecedores”, conta.
No final, até coisas difíceis de prever acabaram dando certo. “Meu pai veio da China, e estar com minha família toda, reunida, foi inesquecível, porque foi como eu queria e muito mais. Tinha tudo para não dar certo, mas deu”, comemora. “Meta batida, missão cumprida, e agora é pensar no futuro. Pensar nos filhos, na vida de casada, curtir muito”, diz Adriana. Ano-novo, sonhos novos.
E você, qual meta quer bater em 2011? Deixe o seu comentário abaixo!

Elas saíram da pobreza e construíram impérios

Conheça a história de três mulheres que conseguiram mudar seu destino e ficaram milionárias através do trabalho

Entre os empreendedores do Brasil, as mulheres já são maioria. Hoje, são 18,8 milhões de brasileiros à frente de negócios com menos de quatro anos, segundo a Global Entrepreneurship Monitor. Desses, 53% são mulheres. Isso significa que existem milhões de brasileiras neste momento tentando mudar sua vida e a de suas famílias abrindo salões de cabeleireiros, pequenos comércios, confecções, clínicas e empreendimentos mais ousados.

Sylvia, Carla e Zica são três mulheres que também começaram assim. Em comum, elas têm a origem pobre, o trabalho duro, e o empreendedorismo. Hoje, têm também negócios que faturam milhões de reais por ano.

Conheça a história de três brasileiras que vieram da pobreza e se tornaram milionárias através do próprio trabalho. 


Para ficar linda, ela ficou rica

Mais de 70 mil clientes entregam madeixas rebeldes todo mês à Beleza Natural, tornando Zica uma das mais bem sucedidas empresárias do setor no Brasil


Foto: DivulgaçãoAmpliar
Os cachos de Zica ficaram como ela sempre quis, e a conta bancária, como nunca imaginou
“O teu cabelo não nega, mulata.” O verso de Lamartine Babo é politicamente incorreto para os padrões de hoje, mas desde os anos 1990, Heloísa Helena Belém de Assis, a Zica, 50, não queria disfarçar seus crespos. “Nasci na Tijuca, na comunidade de Catrambi. Venho de uma família muito humilde. Comecei a trabalhar com 9 anos.” Filha do meio na fileira de 13 do pai biscateiro e da mãe lavadeira, Zica começou fazendo entregas de roupa lavada. “Sou a do meio, seis acima e seis abaixo”, se diverte.


Outras mulheres que construíram impérios:
A ex-sacoleira que virou milionária
Vontade de aparecer e fantasia de mulher-gato
Hoje, ela é dona da Beleza Natural, rede de salões de beleza especializada em cabelos cacheados. Zica não fala em números, nem gosta de expor seu endereço atual, um espaçoso apartamento em uma área nobre do Rio, onde mora com os filhos Junior, Jefferson e Claudineia, além da neta de quase dois anos.  Mas sua rede, que começou num fundo de quintal, faturou R$ 19 milhões em 2005, último ano em que números oficiais foram divulgados. De 2005 para cá, o número de clientes dobrou – hoje são 70 mil. A rede se expandiu e onze unidades, nove no Rio, uma no Espírito Santo e outra na Bahia. Junto com a fábrica, a rede emprega 1.300 pessoas. O preço dos kits de produtos varia entre R$ 38,90 e R$ 51,50. A aplicação de Super-Relaxante, carro chefe da empresa, varia entre R$ 67,90 e R$ 87,90. 


Antes de pensar em ter um negócio, Zica fez de tudo um pouco, sempre lidando com clientes. Vendeu roupas íntimas e cosméticos de porta em porta, por exemplo. Casada e já com filhos, para segurar a renda, foi babá e fazia faxina em mansões “grandiosas” no Alto da Boa Vista. 


Mas tinha uma preocupação: sempre reclamou que trabalhar com público com cabelo sem tratamento não dava. E não queria perder suas características correndo para o alisamento, o que era comum. “Meu sonho era ter o cabelo balançando, sem tirar a originalidade dele. Era complicado trabalhar com o cabelo assim, volumoso e ressecado”, conta. As patroas não gostavam, mas Zica não queria alisar. “Quem queria empregar quem tinha o cabelo assim, enorme? Era grande, alto, um bolo de cabelo. As pessoas associavam a sujeira, desleixo.” Zica fez alisamentos uma vez, para nunca mais. Aos 14 anos, odiou o resultado e o cabelo que sofreu com a química pesada. “Os fios ficaram finos, quebradiços, o cabelo não crescia como tinha que crescer.” Ela cortou e voltou para o estilo “Black power”, à moda dos anos 70.


Curso de cabeleireiroEntre uma e outra faxina, se inscreveu no curso de cabeleireiro na paróquia São Camilo de Lellis, a igreja da comunidade onde vivia. Passou um mês aprendendo a conhecer e lidar com seus fios. “Aos 21 anos, fui fazer o curso e aprendi tudo que o mercado oferecia. Queria achar solução para meu cabelo, não fui atrás para trabalhar com isso. Queria saber como era o meu fio”, conta. “Eu era fissurada nos meus cachos e me negava a passar esses produtos para alisar.”

Foto: Divulgação
Zica à frente de um de seus onze salões, que atendem 70 mil clientes por mês




Ela começou a misturar materiais em busca da fórmula perfeita, que garantisse cachinhos cheios de movimento. Conversando com fornecedores, conseguiu matéria-prima para fazer experiências, misturou cremes que já existiam no mercado, testou tudo que havia para cabelos crespos. “Levei dez anos para chegar na fórmula do Super Relaxante”, conta. “Com meu creme, o cabelo começou a pentear mais macio, a maleabilidade era melhor, passou a ficar com balanço. Mexeu com minha autoestima e com a das pessoas da comunidade”, lembra Zica. Na prática, nunca trabalhou como cabeleireira em outros salões. “No máximo cortava cabelo da minha irmã ou da minha mãe.”


Cachos com senhaO próximo passo foi abrir um salão de fundo de quintal, na Tijuca, em 1993. O único bem da família era um Fusca, que ela convenceu o marido a vender para poderem começar um negócio. “Ele sabia do meu cabelo, ele viu minha necessidade. Ele acabou vendendo o carro e abrimos o salão”. Era uma casa de dois cômodos, “de mais de 100 anos”, lembra Zica. Em pouco tempo, o boca-a-boca e a divulgação com folhetos garantiram filas na porta que viravam na esquina antes do salão abrir. A solução foi colocar um sistema de senhas (que continua até hoje), para tentar atender ao maior número possível de pessoas. A procura pelos produtos era enorme também: clientes vinham com potes de maionese e margarina para levar os xampus e condicionadores para casa. 


“O salão abria às 8h da manhã e às 5h já tinha fila, com dezenas de pessoas”, conta Zica. “A gente não tinha espaço suficiente para atender essa quantidade de clientes. A essa altura, Zica já tinha chamado sócios: além do marido, vieram Rogério, irmão dela, e Leila Velez, que tinha trabalhado com Rogério no McDonald’s. “Ela tinha esse dom, e visão de como a gente tinha que crescer. Nós começamos a terceirizar a produção, patenteamos a fórmula”. 


Linha de produção 
“Foi um sucesso, porque o produto não existia. Todo mundo queria, nosso mercado não oferecia e também não tinha nada importado”, diz Zica. Ela ficou na operação do salão, seu marido na contabilidade e seu irmão saiu do McDonald’s para trabalhar no Beleza Natural. “Logo depois veio a Leila trazendo o marketing. Com seis meses ela entrou, porque ela tinha uma visão muito boa de como divulgar o negócio.” Eles levantaram que os clientes vinham de várias partes do Rio: Caxias, Jacarepaguá, Nova Iguaçu, Madureira, Niterói. “Vimos que estava na hora de crescer para esses lados e abrimos a primeira filial”. Em 2004, os sócios abriram a própria fábrica, a Cor Brasil Cosméticos. 

Foto: DivulgaçãoAmpliar
Zica ao lado da sócia, Leila
A sócia Leila, hoje presidente da empresa, também começou cedo,  aos 10 anos, fazendo entrega de roupas lavadas pela mãe e venda de cosméticos porta a porta. Aos 14 anos, entrou para o McDonald’s. Com 16, se tornou a gerente mais jovem da rede. “Precisamos até pedir uma autorização especial da matriz”, conta. Aos 19, entrou para a sociedade de Zica para trazer know-how dos empregos anteriores e criar coisas novas, que refletissem seu modo de ver o mundo – algo impossível de fazer numa empresa do porte de uma multinacional. “Acompanhei quando a Zica desenvolveu o produto, e veio muito a calhar a sociedade”, conta. 


Elas instituíram uma “linha de produção” no salão, em que cada profissional se especializa em uma das sete etapas do tratamento. Fica mais rápido para a cliente mais barato para o salão. Leila migrou da faculdade de Direito para uma de administração, e daí em diante, voltou toda a carreira acadêmica para o negócio crescer. “É toda uma rede de contatos, e chances de aprender com os erros e acertos de outras empresas”, diz a sócia da Beleza Natural


A favela ficou para trás. Todo ano, as sócias viajam para a Cosmoprof, maior feira mundial de cosméticos, que acontece na Itália, para se atualizarem e sondar oportunidades no mercado. Aliás, Zica acaba de entrar em uma faculdade, onde cursa decoração. Mas confessa que já precisou matar aula para ir à feira de cosméticos. 


A empresária faz questão de reproduzir oportunidades de crescimento: 70% dos funcionários são clientes da rede. “São meninas que se espelham pela minha história de vida, e vêem que podem chegar lá. Quem mais pode entender o que quer um cliente que tem o cabelo crespo?”

Fantasia de mulher-gato traz fama e dinheiro a comerciante

Sylvia foi de menina pobre que andava de jegue na infância a empresária do ramo moveleiro que dá autógrafos e tira fotos como celebridade


Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Josefa Araújo, que se tornou a Sylvia Design, em uma de suas lojas na zona norte de São Paulo
Quando conseguiu seu primeiro emprego em São Paulo, como empacotadora no departamento de brinquedos de uma loja, ela precisou fazer um crachá onde constaria seu nome. O verdadeiro é Josefa. O problema, segundo ela, era que este nome não serviria para seu objetivo de vida: destacar-se. Então, ela escolheu Sylvia. Por que com “y”? “Eu achei que era diferente, como eu. Nunca quis ser igual aos outros”, afirma Sylvia Araújo, ou melhor, Sylvia Design.


Outras mulheres que criaram impérios:
A ex-sacoleira que ficou milionária
Para ficar linda, ela ficou rica
“As pessoas me chamam de Sylvia Design. O nome das minhas lojas virou o meu. Eu adoro. Significa que todo mundo conhece minha empresa. Afinal, são meus clientes e meus fãs que fizeram de mim o que sou hoje”. E olha que não é pouca coisa. A empresária tem seis mega-lojas em São Paulo, que atendem mais de três mil clientes por mês, e é uma “máquina de vender móveis”, como todos que convivem com ela a definem. No último “bota-fora” feito pela loja, todos os móveis poderiam ser pagos em até 12 vezes. Um jogo de sofá ou uma mesa de jantar com seis cadeiras custavam R$ 2.388,00, por exemplo. Já uma mesa com quatro cadeiras para varanda era vendida por R$ 1.788,00.
Mas a vontade de se destacar termina na hora de revelar seu faturamento – a cearense nunca revelou quanto ganha com sua empresa, e nem pretende mudar de ideia. Entre as condições para conceder uma entrevista ao iG, estavam a de não revelar detalhes do apartamento em que vive, um imóvel de luxo em localização improvável da zona norte de São Paulo; nem de outros de seus bens, como o automóvel de mais de R$ 300 mil que ela mesma dirige para ir trabalhar.
Sylvia foge da palavra “rica”, como de qualquer revelação sobre seu patrimônio. “Não uso a palavra ‘rica’. Eu acho que sou uma empresária muito bem-sucedida. Mas eu ralei muito para conquistar tudo que tenho. Comecei do nada e trabalhava de domingo a domingo. Agora posso parar na sexta-feira. Começo a ter condições de curtir um pouco a vida. Não sou deslumbrada. Não compro nada só porque tem marca”.

Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Sylvia durante a gravação de um dos comerciais de sua rede
Sempre atenta a uma câmera de TV, não esconde que adora aparecer. “Eu gosto de dar autógrafos e de tirar fotos. Amo ser reconhecida nas ruas”, diz. A rotina de “celebridade” vivida por Sylvia hoje contrasta, e muito, com seu passado. “Como alguém que andava no lombo de um jegue porque não tinha outra opção poderia imaginar que iria ter uma rede de lojas e ficar famosa? Comprar um carro, por exemplo, não passava pela minha cabeça. Nem carteira de habilitação eu achava que iria tirar um dia”, diz.

Tem que pensar como ‘patrão’

A história de vida desta nordestina é daquelas difíceis de acreditar. A comerciante nasceu em um sítio de pequena cidade de Barro, no Ceará. “Hoje a cidade tem mais de vinte mil habitantes, mas na época que eu vivia lá eram só oito mil”. Sylvia faz questão de reforçar a ideia de que jamais se esqueceu ou teve vergonha de sua origem. Mas não esconde uma certa tristeza quando relembra o sofrimento do pai, que trabalhava na roça para sustentar os sete filhos. “Nunca faltou comida em casa, mas éramos muito pobres. Meu pai trabalhava de sol a sol para que eu e meus irmãos tivéssemos o que comer. Eu sempre quis dar uma vida melhor para meus pais e hoje eu consegui. Meu pai tem cuidados médicos 24 horas por dia”, diz.
É visível a gratidão da empresária pela criação que recebeu. Ela conta que dentro de sua casa honestidade não era qualidade, e sim uma obrigação. “Tiro uma semana de férias a cada seis meses para visitar meu pai no Ceará. Durante este tempo eu só me dedico a ele”.
Ela veio para São Paulo quando tinha 16 anos para ajudar uma irmã. A viagem do Ceará para a capital paulista foi bem longa. Durante três dias e duas noites alimentou-se apenas de frango assado com farinha no ônibus.
Logo que chegou, arrumou o primeiro emprego, empacotando brinquedos. De lá, Sylvia seguiu para lojas do ramo moveleiro. Não saiu mais. Depois de dezessete anos como gerente de vendas, muitos deles numa loja que viria a se tornar sua concorrente no futuro, a empresária conseguiu comprar seu primeiro apartamento e depois começou a poupar para algo mais ousado. Quando a poupança atingiu a quantia de oito mil reais resolveu que iria deixar um bom emprego com salário estável para abrir o seu próprio negócio.

Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Cabelo e maquiagem para encarnar a Sylvia Design
“Eu fui gerente durante anos e já entendia muito do ramo. Todos os fornecedores me conheciam e acabei usando isso para abrir o meu próprio negócio. Eu sempre falo para os meus funcionários: tem que pensar como patrão. Se pensa como vendedor, vai morrer vendedor. A gente tem que querer sempre mais da vida. Não sou egoísta e gosto quando vejo as pessoas progredindo”.
Hoje ela comanda mais de 250 funcionários e gosta de controlar tudo de muito perto. Um segundo centro de distribuição também está sendo construído para atender às necessidades da rede. “Eu não penso em expandir mais porque não quero que os negócios saiam do meu controle. Quanto mais a gente cresce, mais difícil fica para cuidar de tudo. Mas estou sempre mudando de opinião. Nada é definitivo”, afirma.
Sem vergonha de se expor
Quando resolveu mostrar sua empresa na televisão, ela se viu com um problema e logo veio a solução. Aliás, o raciocínio rápido da empresária impressiona. “Eu não tinha dinheiro para fazer inserções suficientes para me tornar conhecida. Precisei achar um jeito de me diferenciar”. Foi aí que ela começou a usar fantasias para anunciar seus móveis. A mais marcante, e que acompanha a marca até hoje, foi a de mulher-gato.
A loja Sylvia Design tornou-se conhecida graças aos comerciais de TV. Investir pesado em propaganda é um dos diferenciais da rede. E, como não poderia ser diferente, Sylvia é a grande estrela. Faz tudo de improviso nas gravações. Ela grita, pula e muge para anunciar um sofá de couro de vaca. Além, claro, dos já famosos “méééééaaauuuuuu” e “é só pra janeeeeeero”!

Foto: Amana Salles / FotoarenaAmpliar
Sapato rasteiro, só quando visita o Ceará
Mas que ninguém se engane: Sylvia Design é diferente de Sylvia Araújo. A primeira é um negócio. A segunda é a empresária que comanda tudo com mãos de ferro. Tem um tom de voz mais baixo que o usado nos comerciais. É teimosa e, muitas vezes, autoritária, como ela mesma reconhece.
A empresária sabia bem o risco que corria de ser ridicularizada. “Quem tem coragem de ir ao programa do Jô Soares vestida de mulher-gato? Eu tive. Eu sabia que podia dar muito certo ou muito errado. Tinha noção que muitos me criticariam, como alguns fazem até hoje. Se não for crítica construtiva, eu ignoro e pronto”.
Academia e drenagem
A morena bonita e muito vaidosa não gosta de falar sua idade. “Eu fico na base do ‘se me dão’. Se as pessoas me dão uns dois ou três anos a menos do que tenho, já estou lucrando”, diverte-se.
Sylvia diz que sua rotina mudou radicalmente há três anos, quando teve problemas sérios de estresse e estafa. Ela não conseguia mais se desligar dos problemas da empresa e nem dormir. “Eu fiquei muito mal. Queria apenas ter uma boa noite de sono. Meu médico me aconselhou a desacelerar um pouco e foi o que fiz”.
Desacelerou, mas nem tanto. Ainda trabalha 10 horas por dia. Sylvia acorda às oito da manhã e vai para seu escritório. Depois, visita algumas lojas e segue para a academia três vezes por semana. Também faz drenagem linfática. “Tenho uma genética muito boa. Nunca fiz muitos tratamentos estéticos”.
“Só uso rasteirinha quando vou para o Ceará, porque a cidade é de paralelepípedo e meu salto fica preso. Acho que a mulher fica mais feminina e elegante de salto alto. O meu eu não dispenso por nada. Eu realmente gosto muito de sapatos”. Quantos ela tem, não revela, mas está prestes a doar mais de cem pares que não usa mais.
Sylvia também gosta de restaurantes. Ela não dispensa comida nordestina e uma boa churrascaria. “Tem vários lugares que vou sempre com a minha família”. Mas, no fim, a rotina segue sendo simples. Pela primeira vez, planeja uma viagem ao exterior. “Nem passaporte eu tinha. Peguei o meu não faz muito tempo”. Agora ela quer visitar a Disney e Nova Iorque.

A ex-sacoleira que ficou milionária

Empresária que vendia água na porta da faculdade construiu império com 160 clínicas odontológicas espalhadas pelo Brasil


Foto: Eduardo César/FotoarenaAmpliar
Carla Sarni, dona da rede odontológicas Sorridents
Você já ouviu falar em Carla Sarni? Talvez não, mas as chances de conhecer a rede de clínicas odontológicas que ela fundou são maiores. A Sorridents, maior rede da América Latina, está presente em mais de 125 localidades do país. Em breve, este número aumentará para 160, já que muitas franquias vendidas estão em fase de implantação. Mas aos 37 anos ela quer mais. Está de olho no mercado de Portugal e Angola. O objetivo é um só: ser a maior do mundo no ramo.


Outras mulheres que criaram impérios:
- Para ficar linda, ela ficou rica
Vontade de aparecer e fantasia de mulher-gato
“Sempre tive o dom para os negócios. Quando eu tinha uns 12 anos ganhei da minha mãe alguns carretéis com linha. Coloquei dentro de uma bacia e fui para a frente do mercado central da minha cidade. Levei duas cadeiras e ficava chamando as pessoas com a frase ‘entra, entra freguesia, chucha dinheiro na bacia’. Vendi tudo e comprei uma bicicleta cor de rosa”, conta a empresária com um bom-humor muito característico.
Roupas, bombons e garrafas de água
Ela vem de uma cidade pequena do interior de São Paulo, Pitangueiras. O pai era motorista de ônibus circular e a mãe vendia queijos e requeijão e, quando conseguiu juntar um dinheiro, comprou uma pequena loja onde começou a vender roupas. Carla cursava magistério pela manhã. Ela frisa que a única razão para estudar para ser professora era porque o curso era gratuito. Durante a tarde ajudava a mãe e no período noturno freqüentava as aulas do ensino médio, antigo colegial. Quando seu primo perguntou se ela não queria ir com ele para Minas Gerais prestar vestibular de odontologia, a vida da empresária tomou um novo rumo.
“Eu fui porque a inscrição não era cara e porque ele disse que ia ter muitas festas. Não achei que poderia ser aprovada”, confessa. Depois da boa notícia, veio o balde de água fria. A mãe, comerciante que contava o dinheiro no fim do mês e lutava para pagar as contas com o lucro da loja e o salário do marido, disse que não tinha condições de sustentá-la em outra cidade e ainda mais comprar os materiais didáticos tão caros que o curso exigia. Ela não desistiu e pediu permissão para tentar se manter sozinha. A experiência seria de apenas seis meses. Se não desse certo, Carla voltaria para sua cidade para terminar o magistério.
Foi então que ela começou a retirar roupas da loja da mãe e vender nas repúblicas de Alfenas, cidade mineira onde cursou faculdade. O período integral de estudos não desanimava a aluna. Depois das aulas ela visitava as casas de estudantes e vendia seus produtos. Quando as roupas acabavam, ela fazia bombons. Na época de vestibular, ia para a porta da faculdade vender garrafas de água. E desta forma ela se manteve no curso e ainda mandava o dinheiro que sobrava para ajudar os pais. “Fui apelidada de sacoleira, mas foi assim que eu me formei”, lembra.
Consultório em cima da padaria
Depois de se formar, Carla resolveu vir para São Paulo. Morava de favor na casa de um tio e começou a procurar emprego. Não foi aprovada num processo seletivo de um consultório que ficava em cima de uma padaria, na Vila Císper, zona leste da capital. Mesmo com a negativa, a empresária esperou todos os candidatos irem embora e reforçou ao dentista que, caso o profissional escolhido desistisse da vaga, ela precisava muito daquele emprego. Dias depois, ele a contratou.
“Depois de três meses, formava fila na porta por pessoas que queriam ser atendidas por mim”, afirma. Ainda na época que estava na faculdade sua avó e uma tia começaram a pagar um carnê de prestações para uma cadeira de dentista para Carla. Quando a cadeira saiu, ela informou o dono da clínica que iria embora. Foi quando ele lhe propôs que ela comprasse o consultório. Ela pagou 12 mil reais em 10 parcelas. E começou a expandir alugando as salas ao lado.
Enquanto trabalhava, pagava um consórcio de um automóvel. “Quando meu carro saiu, eu pensei: ‘vou deixar de ser pobre’. Mas, justamente nesta época, um imóvel perto do meu consultório foi colocado à venda. Eu dei meu carro como entrada e financiei o resto em 15 anos. Depois daí, tudo começou a mudar.
Faturamento de 104 milhões de reais
Em menos de 10 anos, Carla e alguns dentistas parceiros já possuíam 23 unidades da Sorridents. Em 2004, ela e o marido formataram o sistema de franquia e hoje a empresa é a maior do ramo, na América Latina, com 160 clínicas odontológicas. O faturamento do ano passado foi de 104 milhões de reais e o esperado para este ano é a quantia de 120 milhões.
Com o dinheiro vieram pesadas 16 horas de trabalho por dia, falta de tempo para atividades cotidianas, como ir ao mercado, e também para a família. Mãe de dois filhos, um de oito e outro de sete anos, Carla não participava mais da rotina das crianças. Há quatro anos, seu filho mais velho ficou dias internado numa UTI (unidade de terapia intensiva). Foi quando ela decidiu rever suas prioridades.
“Hoje a minha agenda depende dos meus filhos. Almoço em casa de duas a três vezes por semana e, durante o período de prova dos meninos, eu chego em casa às sete da noite e tomo a matéria até às nove. Depois volto a trabalhar lá mesmo. O fim de semana também é da minha família. A gente adora sair para comer fora, ir ao teatro e ao cinema”.
Tirando os filhos, o restante do tempo é dedicado integralmente aos negócios. A manicure e o cabeleireiro vão na sua casa e shopping nem pensar! “Só compro roupa ou sapatos quando realmente preciso. Não tenho tempo de ficar zanzando nas lojas. Também só pago o que considero justo. Não vou gastar cinco mil reais com uma bolsa aqui no Brasil, se posso comprá-la por menos da metade nos Estados Unidos ou na Europa”.
“Sou extremamente econômica”
O que mudou com dinheiro e sucesso? “Basicamente temos muito mais conforto. Além disso, posso viajar para todos os lugares que sempre quis conhecer. Não dá para tirar períodos longos de férias, mas quando podemos, eu e meu marido, pegamos as crianças e vamos passear. Hoje em dia eu até desligo o celular”, conta Carla.
A família também possui um “refúgio” para os fins de semana: uma casa dentro de um condomínio fechado no Guarujá, litoral de São Paulo. “Na praia a gente sai para andar de bicicleta com as crianças e curtimos muito este momento com a família”.
A empresária conta que é econômica por natureza. “Não consigo sair gastando dinheiro sem pensar. Sei que tive que renunciar a muitas coisas na minha vida pessoal, por isso dou muito valor a tudo que conquisto. Na minha casa, por exemplo, fazemos mercado às quartas-feiras, dia em que legumes e frutas estão em promoção. Meus filhos só ganham presentes em datas comemorativas e se eles quebram algum brinquedo, precisam juntar o dinheiro de suas mesadas para comprar outro. Eu sempre falo que não vou repor algo que eles não cuidaram. Acredito que eles dão muito valor ao que têm e que já entendem que é preciso trabalhar muito para ter sucesso e uma vida confortável”, completa Carla.

Nenhum comentário: