domingo, 17 de abril de 2011

Preparação para Enem substitui cursinhos


Adesão de universidades federais ao exame muda perfil dos pré-vestibulares
No ano passado, 59 universidades e institutos federais utilizaram a nota do Enem em seus processos seletivos, 20 deles como critério único para preenchimento das vagas.
São Paulo, 03 (AE) - Uma nova modalidade de cursinho preparatório para o vestibular começou a figurar no catálogo dos sistemas de ensino: o pré-Enem. A modalidade, presente no País todo, é resultado da crescente adesão das universidades federais ao Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) como forma única de seleção.

No ano passado, 59 universidades e institutos federais utilizaram a nota do Enem em seus processos seletivos, 20 deles como critério único para preenchimento das vagas. A adesão levou 4,6 milhões de candidatos a se inscreverem para a prova, um número 30 vezes maior do que os 157 mil estudantes que participaram da primeira edição, em 1998.

É de olho nesses vestibulandos que os cursinhos têm montado suas turmas de pré-Enem. De acordo com os coordenadores pedagógicos, as aulas sob medida dão menos ênfase a fórmulas e "decorebas" e apostam na contextualização dos assuntos e na interpretação e produção de textos.

Em Fortaleza, o curso X da Questão começa a primeira turma neste mês. As aulas serão oferecidas àqueles que buscam uma vaga na Universidade Federal do Ceará (UFC), que usa o Enem como critério único de seleção desde o ano passado.

Em Belém (PA), este é o segundo ano que o Equipe Vestibulares oferece a modalidade. Os inscritos pleiteiam uma vaga na Universidade Federal do Pará (UFPA), que substituiu a primeira fase do processo seletivo pelo Enem, ou na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), onde o ingresso se dá exclusivamente pela classificação no exame.

"Antes, nossa procura aumentava apenas às vésperas da prova, lá por agosto. Agora, desde o início do ano já temos interessados", diz Nayara Rocha de Souza, orientadora pedagógica.

Para conseguir uma vaga no concorrido curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a estudante Luciana Rancanti, de 18 anos, matriculou-se em um pré-Enem de Belo Horizonte. "Ano passado, fiz um cursinho convencional. Daí, quando a UFMG aderiu ao Enem, não deu tempo de eu me preparar. Agora, estou focada, aprendendo a inter-relacionar matérias. No Enem, uma mesma questão pode cobrar conteúdos de física e química", explica.

Luciana é aluna da rede Interacursos, que tem 3 mil alunos de Enem espalhados por 140 cidades. já que o conteúdo é oferecido nas modalidades presencial e telepresencial.

Confusão
Apesar da proliferação de cursos específicos, a preparação para o Enem não deve ser muito diferente da convencional, diz Paulo Roberto de Andrade, diretor do Colégio Master de Cuiabá. "Na essência, continua a ser um vestibularzão, com prova conteudista e longa."

Além disso, o diretor aponta a dificuldade logística de trabalhar com modelos de processos seletivos distintos. Em Cuiabá, por exemplo, a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) preencheu, em 2011, suas 5.168 vagas via Enem. Por outro lado, a Estadual do Estado de Mato Grosso (Unemat) não utilizou o exame. "Nossos alunos vão fazer as duas provas e não têm como fazer dois cursinhos. Por isso, montamos uma grade tradicional e oferecemos material paralelo no estilo Enem."

Em Porto Alegre, o curso Fênix se utiliza da mesma estratégia, já que na Universidade Federal do Rio Grande do Sul o Enem é utilizado apenas como complemento à nota final da primeira fase, enquanto outras federais do Estado já aderiram integralmente ao exame, como é o caso da Federal do Rio Grande (UFRG) e da Federal de Pelotas (UFPel).
Em São Paulo, modelo de curso não emplaca
Se em outras capitais pipocam cursinhos pré-Enem, isso não acontece em São Paulo. Como USP e Unicamp não utilizaram o exame em 2010, há poucos adeptos. O Instituto Henfil, por exemplo, tentou abrir turma em fevereiro, mas não conseguiu alunos. O início das aulas foi adiado para este mês. Na sala de aula, os poucos candidatos diferem do padrão de quem faz curso pré-vestibular tradicional: adolescentes que buscam vagas nas públicas.
O pré-Enem paulista atrai alunos mais velhos, interessados no Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede bolsas em instituições privadas de acordo com a pontuação no exame. É o caso do carteiro Odálio Oliveira, de 27 anos. Ele quer estudar Química ou Arquitetura, mas na sua escolha, mais do que o nome da universidade, pesa outro quesito. "Quero estudar próximo ao meu trabalho. Preciso ir bem no Enem para ter bolsa do Prouni." 
Jornal O estado de são paulo, 04/04/2011

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