sexta-feira, 15 de abril de 2011

Castigos escolares - Ombudsmãe

Um dos meus filhos nasceu com o senso de moral de um velhinho. É uma criança que sempre nos surpreendeu com tiradas tais como "Pessoal...Fulano não é egoísta. Ele só é o mais novo da nossa classe e ainda não sabe o que é emprestar". Isso quando tinha 6 anos.

É companheiro, amigão de todos e fiel cumpridor de normas. Se não pode jogar lixo na rua, não pode. E fica apontando a lixarada na calçada, indignado.

Já quis ser escalador de árvores, recolhedor de cães abandonados e agora parou no jogador de futebol. É bom saber que ainda tem uma criança lá dentro.

Antes que vocês me achem uma coruja metida a besta, calma...a Dona Vida sempre se encarrega de quebrar nosso salto. Da mesma barriga que este brotou, veio meu outro filhote.

Não quero rotulá-lo, mas eu diria que é um pequeno que exige um esforço maior de todos nós com relação ao desenvolvimento da ética e da moral.

Desde muito pequeno, sempre deu um jeito de burlar as regras. É do tipo que pede pra ir no banco da frente e me "ensina" que é só abaixar quando o guarda aparecer. Quando brinca de jogos simbólicos, adora ser o bandido (ó Senhor!).

Houve uma época em que se divertia andando pela rua observando os pontos por onde poderia penetrar em casas fechadas.

Aos 4, quando todas as crianças normais pegam objetos sem pedir (menos o meu velhinho), a professora perguntou porque ele não havia lhe pedido emprestado o brinquedo da escola que colocou no bolso. A resposta da pulguinha topetuda: "Porque você me falou para pedir pro dono. Você, por acaso, é dona da escola? Por que eu tinha que pedir à você?"

Com 6 anos, ao pegá-lo na escola e fazer a pergunta habitual sobre o que fizeram naquele dia, escutei dos irmãos "fiz um gol", "apresentei minha maquete" e dele "fumei maconha". Quase bati o carro.

Pois é, no quesito moralidade, esse meu filhote precisa de um olhar mais atento nosso. E da escola. Que nesta semana, desempenhou com maestria seu papel de parceira na formação de pessoinhas do bem.

Depois de todo um final de semana, bem na hora de dormir, ele coloca a cabeça no travesseiro e dispara: "Mãe, eu tô tão ferrado!"

Me contive para não rir. O quanto se pode estar ferrado aos 7 anos? Mas mantive a linha. Então ele contou que na sexta-feira havia entrado na sala de aula ao lado e surrupiado uns docinhos de um projeto que os colegas estavam desenvolvendo.

Descoberto o "crime", ele assumiu na hora a autoria. Pontos para meu bebê. A professora então o chamou para uma conversa. Nada de bronca, ameaça ou castigo. Simplesmente explicou que os doces, além de não serem dele, eram importantes para o projeto da outra sala. E perguntou como poderiam fazer para resolver. Entraram em acordo que ele faria a reposição dos doces que pegou.

Não veio bilhete para os pais, ninguém nos ligou. Deixaram para ele resolver. E ele deve ter matutado o final de semana todo sobre como sair dessa. Quando viu que a segunda-feira se aproximava, pediu ajuda.

Conversamos e, no dia seguinte, lá se foi nosso aprendiz de gente do bem para a escola portando os 50 centavos necessários para fazer a reposição dos docinhos.

Tiro o chapéu para a professora. Podia ter dado uma bronca, tê-lo feito se sentir envergonhado, exposto, humilhado. Ou aplicado um castigo que iria ensiná-lo apenas a mentir na próxima. Podia ter mandado um bilhete ou uma advertência e passado a bola para nós, pais. Podia tê-lo colocado para "pensar" (como chamam castigo hoje em dia). Ou ainda, ignorado. Afinal, foram só uns docinhos sem valor.

Mas, não. Como uma verdadeira mestra, ela enxergou ali uma oportunidade do meu filho aprender, de refletir sobre as consequências dos seus atos. E deu a ele a responsabilidade e a oportunidade carinhosa de repará-lo. Quem dera todos os "castigos" fossem assim. Relacionados com o delito e com a chance do autor corrigir ou ao menos minimizar os danos causados ao outro. Ao invés da vingança, a educação.

Nesse final de semana, meu filhote cresceu alguns centímetros. Internos.

E eu senti que eu e meu marido não estamos sozinhos nessa jornada. 

Blogueiro: Isso me lembra uma certa pessoa que tinha uma filha que estava começando a falar palavrões e minha amiga achava lindo. Eu disse à minha amiga que ela deveria falar pra filha dela só dizer aquilo em casa, e com os familiares, mas ela continuou achando lindo. Só espero que essa pessoinha não venha pra escola, pois senão terei que chamar os pais.

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