sexta-feira, 11 de março de 2011

PROFESSORES VIVEM ROTINA DE VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Pesquisa do CPP aponta que violência atinge até as melhores escolas

Era de se esperar que pelo menos as escolas públicas da rede paulista de ensino com os melhores desempenhos no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) estivessem livres da violência, não é? Mas, na prática, não é isso que acontece. Até os alunos dos colégios mais bem avaliados do Estado sofrem o impacto negativo de episódios violentos. É o que aponta a mais nova pesquisa do Centro de Políticas Públicas (CPP), coordenado pelo professor de economia Naercio Menezes Filho, do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.
O professor comparou as características das escolas e dos alunos das 10% melhores e das 10% piores instituições classificadas no Saresp de 2008. Uma das conclusões é que quatro em cada dez escolas (42%) com melhor desempenho já registraram casos de violência contra alunos, professores ou funcionários.
Para chegar a esse resultado, Naercio pegou as notas médias dos colégios no exame de avaliação do Saresp e cruzou com as respostas dadas pelos diretores por meio de questionário também aplicado pelo Saresp. “São brigas, agressões, roubos, depredações e pichações. Casos que chegaram ao conhecimento do diretor, o que mostra que não são ocorrências banais”, afirma o professor.
Nas unidades com as piores notas, o problema é ainda maior. Seis em cada dez escolas já relataram atos violentos. “A violência é um dos principais fatores que influenciam a competência escolar do aluno”, diz o coordenador do CPP. “São sempre episódios traumáticos que geram medo e sensação de impotência nos professores e estudantes.” Naercio acredita que sua pesquisa vai ajudar o governo estadual a tomar medidas públicas para minimizar o problema. “Este é sempre o intuito dos estudos e pesquisas do CPP.”
O estudo chegou a outras conclusões interessantes. Uma delas é que as escolas com melhores notas apresentam características semelhantes: possuem diretores com mais tempo no cargo, professores que faltam menos, recebimento da maioria dos livros didáticos e alunos com melhores condições sócio-econômicas, com acesso ao computador em casa.

CPP cria ferramenta para comparar notas das escolas públicas brasileiras

Que tal saber se a escola pública em que seu filho estuda está entre as melhores ou piores do Brasil ou do Estado de São Paulo? Por meio da ferramenta criada pelo Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa (antigo Ibmec São Paulo) - em parceria com o Itaú BBA, isso é muito fácil. O CPP criou um site de comparação de notas: www.cpp.insper.org/prova-brasil e WWW.cpp.insper.org.br/saresp09.
Nestes dois endereços eletrônicos você pode saber qual a nota média da escola do seu bairro, por exemplo, ou visualizar o ranking das melhores escolas e piores escolas e comparar seus desempenhos. Segundo Naercio Menezes Filho, coordenador do CPP, a exposição destes índices pode gerar uma pressão pela melhoria das instituições que hoje apresentam as piores notas, o que contribui para o aprimoramento do sistema de ensino brasileiro.
Matéria acima do Centro de Políticas Públicas
Pesquisa mostra que esta é a situação que mais provoca sofrimento no ambiente de trabalho; medo evita denúncia

Alunos e amigos do professor Kássio Gomes, assassinado pelo estudante Hamilton Caires, durante manifestação no Centro de Belo Horizonte

Uma nota baixa teria sido o motivo para que o aluno Amilton Loyola, de 23 anos — réu confesso, segundo a polícia —, ressolvesse matar com uma facada o professor de educação física Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39, dentro de uma universidade particular de Belo Horizonte (MG), na semana passada. Em Campinas, no último mês de julho, o também professor de educação física E.R.L., de 44 anos, foi agredido com murros, tapas e teve sua roupa rasgada pela mãe de uma aluna. O motivo: um par de sandálias. “Não reagi e saí bem machucado. Fiz um BO (boletim de ocorrência) e estou processando essa mãe”, diz ele. Esses casos comprovam que a violência tem feito parte da rotina nas escolas e que o medo é um intruso cada vez mais incômodo nas salas de aula. 

Uma professora de Ensino Médio de Campinas que não quer ser identificada com medo de consequências ainda mais graves, já que foi vítima de uma “brincadeira de criança”, como definiu a diretoria da escola. Um aluno da 6ª série adicionou sonífero à sua garrafa de água. “Eu poderia sofrer algum acidente se fizesse efeito enquanto eu dirigisse. Como não havia ninguém da coordenação da escola, chamei a polícia para fazer um BO”, conta. Na delegacia, ainda na presença dos policiais, foi insultada e ameaçada pelo pai do aluno. 

Uma pesquisa recente realizada pela direção do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em conjunto com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese), ouviu 1.615 professores da rede pública estadual – 67,4% do sexo feminino e 32,6% do masculino – que participaram do 23º Congresso da Apeoesp, ocorrido em setembro. O levantamento mostrou que, para 57,5% dos entrevistados, a violência nas escolas é a situação que mais provoca “sofrimento no ambiente de trabalho”. 

Tráfico
A criminalidade armada e o tráfico de drogas invadindo as escolas são outros importantes fatores que retraem qualquer atitude mais efetiva dos profissionais da educação. “Tenho amigos — e inclusive eu — que têm medo de denunciar uma agressão. Quando se trabalha em um lugar onde há tráfico e o crime é algo comum, não há quem te proteja, ninguém se arrisca a falar. Somos nós que vamos para o bairro e para a escola todo dia nos expor”, desabafa uma professora de Ensino Médio de Campinas que, por receio de ser a próxima vítima, não quer ser identificada. 

'A gente trabalha com medo de alguns alunos, essa é a verdade. Outro dia, um deles chegou 20 minutos atrasado à minha aula e eu não deixei entrar. É uma regra que coloquei, não permito atrasos, também não deixo eles mexerem com o celular ou o MP3. Ele saiu gritando, mandou eu me f... Um conhecido meu já tomou uma cadeirada nas costas dentro da sala”, conta outra professora, de história, que também não quer ver seu nome publicado.

Informações  - Jornal Cosmos de Campinas -SP
SECOM/CPP
Matéria retirada do CENTRO DO PROFESSORADO PAULISTA

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