segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sobe o PISA

Brasileiro lê melhor, mas segue defasado

Estudantes brasileiros com 15 anos melhoraram em leitura, ciências e matemática nos últimos nove anos.


Os estudantes brasileiros com 15 anos melhoraram em leitura, ciências e matemática nos últimos nove anos. Seguem, porém, entre os mais atrasados do mundo.
A constatação é da avaliação internacional chamada Pisa, coordenada pela OCDE (organização de nações desenvolvidas), que analisou a Educação em 65 países.
O exame avalia as áreas a cada três anos. Nesta edição, a prioridade foi leitura, em que a média brasileira avançou 4%.
Essa melhora significa que o aluno de hoje tem um conhecimento equivalente a seis meses de aula a mais do que os de 2000, conforme cálculo da Folha.
Para o OCDE, o avanço foi "impressionante". Ainda assim, os brasileiros estão com mais de três anos de defasagem ante os chineses, os líderes da lista, que passaram Finlândia e Coreia.
No ranking, o Brasil está na 53ª posição, com nota semelhante a Colômbia e Trinidad e Tobago. Os avanços percentuais em ciências e matemática foram maiores que os de leitura, mas as colocações são semelhantes.
Habilidades
A avaliação aponta que o conhecimento médio do aluno brasileiro permite que ele entenda subjetividade simples em um texto, mas não consegue encontrar, a partir de trechos diferentes, a ideia principal de uma obra.
O relatório aponta algumas dificuldades enfrentadas pelo Brasil: aumento do crescimento de matrículas ocorrido apenas recentemente; muitas Escolas rurais, com poucos recursos; e altas taxas de repetência.
Já para explicar o desempenho melhor, foram citados o aumento do gasto com Educação (de 4% do PIB em 2000 para 5,2%); ajuda federal a municípios em dificuldades; e criação de indicador de qualidade (Ideb).
Também foram apontadas "inovações" locais, como aumento salarial dos docentes no Acre e adoção de currículo único em São Paulo.
"As coisas estão melhorando. Não existe a bala de prata que vai resolver o problema da Educação brasileira", disse o ministro Fernando Haddad (Educação).
Repercussão
Francisco Soares, pesquisador da UFMG:
"É como se tivéssemos tirado a cabeça de dentro d'água. Mas aí vimos que a praia está muito longe."
Fernando Haddad, ministro da Educação:
"O Brasil foi o último colocado no Pisa 2000 [eram 32 países]. As coisas estão melhorando. O país foi o terceiro que mais evoluiu desde 2000 [considera a média das três áreas, lógica não usada pela OCDE]. O importante é ter retirado o sistema brasileiro da inércia em que estava."
Paulo Renato Souza, secretário da Educação de SP:
"O resultado de São Paulo e do Brasil foi bom. O desempenho em 2000 não foi alto porque estávamos acabando de consolidar a universalização das matrículas. Qualquer lugar do mundo que fez isso teve dificuldade em melhorar as médias."
Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep:
"As perspectivas para o Brasil são boas. Nas últimas avaliações nacionais, o maior crescimento foi na 4ª série. Os alunos estarão na faixa etária do próximo Pisa. Mas não haverá grandes revoluções rapidamente. De qualquer forma, tivemos um crescimento importante, mas saímos de patamares baixos."
Célio da Cunha, pesquisador da UnB:
"O Brasil tem um nó que não conseguiu desatar, que são as séries iniciais do fundamental, onde há repetência. Essa faixa precisa de mais atenção, é o alicerce para a boa capacidade de leitura."
Paolo Fontani, coordenador da área de educação da Unesco:
"Alunos que têm acesso a livros em casa têm desempenho melhor, o que nem sempre ocorre nos lares brasileiros. Chegou o momento de o Brasil se posicionar onde quer estar."
Wanda Engel, superintendente-executiva do Instituto Unibanco:
"Melhorou bem, mas ainda falta muita coisa, como diminuir o absenteísmo dos professores e a repetência dos estudantes."
Isabel Santana, gerente da Fundação Itaú Social:
"Enquanto o Brasil tiver alunos de 15 anos na 7ª série, vai ter uma desvantagem enorme."

Entrevista: Aluno passa a odiar o escritor, pois não entende o que ele diz

Para que gostem de ler, os alunos devem ver o livro dentro de um contexto ou acharão a leitura chata. O alerta é do escritor Marçal Aquino, ganhador do prêmio Jabuti em 2000

DE SÃO PAULO

Para que gostem de ler, os alunos devem ver o livro dentro de um contexto ou acharão a leitura chata. O alerta é do escritor Marçal Aquino, ganhador do prêmio Jabuti em 2000. (FRw)

Folha - O que o sr. acha sobre o desempenho dos brasileiros em leitura no Pisa?
Marçal Aquino - Eu sempre achei que persiste no Brasil um modelo equivocado de aproximação da leitura, em que o professor dá o livro e dá uma prova em seguida. É raro o professor fazer uma leitura na classe com os alunos.
Para um aluno que está começando a ler, é necessária a contextualização, aprender que o livro tem um significado. Na maioria das vezes, o aluno acha a leitura um troço chato, acha o escritor pentelho e não compreende a dimensão do que deve ser a leitura. Cria-se um inimigo da leitura.

Essa leitura em sala de aula pode fazer com que o aluno se sinta mais atraído?
Sem dúvida. Eu gostava de ler, mas não tinha maturidade para entender os grandes clássicos da literatura brasileira. O que tende a acontecer? O aluno não compreende do que se trata, porque aquilo não tem nada a ver com a experiência de vida dele.

O fato de as escolas se pautarem muito pelo vestibular faz com que se perca o gosto pela leitura?
Isso é uma das razões. [A leitura] é tratada como uma competição, você tem que decorar a obra. O cara passa a odiar o escritor, porque ele não entende o que o escritor está propondo.
Fonte: Folha de São Paulo (SP)

SP tem nota de leitura pouco acima da média do país

Os alunos de São Paulo tiveram médias no Pisa pouco acima das do país. No Brasil, variaram da quinta à oitava posição, respectivamente em leitura e matemática.
Brasil fica em 53º lugar em prova de leitura
Se fosse um país, o Estado estaria em 49º em leitura, três posições acima da do Brasil, com desempenho semelhante ao de Romênia, Tailândia e México. No total, 65 países foram avaliados.
"O desempenho de São Paulo foi bom. Se não é o primeiro, é preciso considerar que é um dos Estados com maior diversidade populacional, o que impacta o resultado", afirmou à Folha o secretário da Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza.
"Quanto mais homogênea a rede, melhor a nota", disse.
O relatório do Pisa diz que, como o Acre, São Paulo fez uma "transformação" no ensino, ao criar seu próprio sistema de monitoramento de qualidade (Idesp) e fazer um currículo para cada série.
Superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel diz que o resultado paulista não é satisfatório. "Se eu fosse a nova governadora de SP ou RJ, assumiria constrangida. Os dois Estados estão muito atrás no Sudeste. Minas disparou."
O Distrito Federal lidera os três rankings no país (leitura, ciências e matemática). Alagoas é o pior em duas listas, e o Maranhão, em uma.
EXCELÊNCIA
Os dados detalhados mostram que há ilhas de excelência no Brasil. A rede com melhor nota foi a federal, cujo resultado em leitura é similar ao da média de Hong Kong, quarto melhor participante do mundo. As escolas privadas se assemelham ao índice da Austrália (nono lugar).
Por outro lado, a rede pública não federal ficaria empatada com a Argentina, na 58ª posição, cinco posições abaixo da brasileira.

Brasil fica em 53º lugar em prova internacional que avalia capacidade de leitura

O Brasil obteve o 53º lugar, em uma lista de 65 países, numa prova internacional que avaliou a capacidade de leitura de estudantes com 15 anos. Além da leitura, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) também avaliou as habilidades dos estudantes em matemática e ciências.
O exame, que é aplicado a cada três anos, é divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Juntos, os países que participam do Pisa representam aproximadamente 90% da economia mundial.
No Pisa 2009, o foco de análise foi a leitura. Nesse ranking, o Brasil obteve 412 pontos --a China, primeira colocada, chegou a 556 pontos. Foram avaliados diversos aspectos na leitura, como a capacidade de reflexão, avaliação e interpretação dos alunos, por exemplo.
De acordo com o relatório divulgado pela OCDE, o Brasil teve "um grande ganho" na nota de leitura nos últimos anos. Apesar disso, o país ainda fica atrás de Chile (44º), Uruguai (47º), Trinidad e Tobago (51º) e Colômbia (52º). Por outro lado, o Brasil conseguiu ficar à frente da Argentina (58º) e do Peru (63º).
Em ciências, os estudantes brasileiros ficaram com 405 pontos. Em matemática, a nota ficou em 386 pontos (a China obteve 600 nesse quesito).
DIFICULDADES
O relatório apontou que o Brasil tem dificuldades para melhorar a educação, uma vez que o país é grande e tem muitas escolas rurais.
Sobre o levantamento, o Ministério da Educação afirmou que o Brasil está entre os países que mais cresceram no Pisa nos últimos anos, cumprindo a meta do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) de atingir a média 395 pontos nas três matérias.

Dados mostram que temos muito o que aprender com os chilenos

Brasil aumentou 16 pontos em leitura. No entanto, 50% dos nossos jovens de 15 anos ainda não são capazes, entre outras coisas, de localizar informações implícitas em um texto

ILONA BECSKEHÁZY
PAULA LOUZANO
Especial para a Folha

Escolher participar de uma avaliação internacional como o Pisa é uma iniciativa louvável para qualquer país. Equivale à decisão pessoal de fazer um check-up de saúde e encarar seus resultados.

Em 2000, o Brasil começou a participar do exame e, desde então, vem administrando as consequências da revelação desses dados, inclusive tomando os remédios necessários.

Como um paciente crônico, os dados apresentados nesta semana mostram que, apesar da melhora, ainda falta muito para a cura.

Entre a primeira edição e a mais recente, o Brasil aumentou 16 pontos em leitura.

No entanto, 50% dos nossos jovens de 15 anos ainda não são capazes, entre outras coisas, de localizar informações implícitas em um texto.

Segundo a OCDE, eles terão dificuldades de participar de maneira ativa e produtiva da vida social.

SÉTIMO ANO
O problema é ainda mais grave quando se leva em consideração que 19% dos brasileiros de 15 anos nem participam do exame, por já estarem fora da escola ou não terem alcançado a primeira das séries avaliadas pelo Pisa (sétimo ano).

Ou seja, se todo esse contingente estivesse na escola como deveria, os resultados brasileiros poderiam ser ainda piores.

Uma comparação com o Chile, que há dez anos partiu de patamares semelhantes aos nossos, mostra que eles estão melhorando mais rapidamente.

Os estudantes chilenos aumentaram 40 pontos no teste de leitura do Pisa na última década, uma diferença de 24 pontos em relação ao avanço brasileiro. Lá, a exclusão educacional também é menor: apenas 8% dos jovens de 15 anos ficam fora do teste.

DESIGUALDADE
Perdemos para o Chile também no quesito igualdade de oportunidades educacionais. A nota dos jovens chilenos mais pobres aumentou 51 pontos, enquanto a dos brasileiros da mesma condição social melhorou apenas cinco pontos.

Aumentar a qualidade sem aumentar a desigualdade educacional, como fez o Chile, é o principal desafio dos países da América Latina.

A análise dos dados do Pisa e o acompanhamento das políticas educacionais do Chile mostram que temos muito o que aprender com esse país.

A boa notícia é que não precisaremos ir longe.
ILONA BECSKEHÁZY, diretora-executiva da Fundação Lemann, e PAULA LOUZANO, doutora em Educação por Harvard

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